sábado, 24 de julho de 2010

Belém do Pará

22, 23 e 24 de julho

Falta o norte. Já troteamos por muitos lugares, mas falta o norte. Assim resolvemos ir pras bandas da floresta.
Como nesta viagem iríamos com o Cascata, Mônica, Bruna e Gabriel e era alta temporada em função das férias escolares, principalmente no norte, incrivelmente conseguimos organizar toda a logística (onde dormir e carro para andar) a partir de Porto Alegre. Poderíamos cair numa roubada, mas teríamos onde cair dormindo.
No norte as férias escolares têm 1 mês nesta época do ano. Também muitas pessoas fazem as suas férias grandes nesta época, que é chamada de verão por lá, por conta das chuvas diárias que param e só voltam a ser constantes lá pelo final do ano. Então, temos os rios cheios, sem chuvas e um calorão. É alta temporada mesmo. E, acho que realmente é a melhor época pra ir. Os nativos dizem que só têm duas estações - verão de julho a dezembro e inverno (chuvas) de janeiro a junho, mais ou menos assim.
Chegamos a Belém numa quinta no final da manhã. Saindo de 5 graus em POA, e chegando com 35 lá. Ruim é ter que guardar os casacos até o dia da volta. Pegamos um ônibus de linha pro hotel, que ficava no centro histórico.
O hotel em que nos hospedamos (Açaí Tropical) fica no Centro Histórico de Belém, perto do mercado Ver-o-Peso e dentro do centro camelosístico da cidade, que durante a noite se transforma num ambiente não muito seguro, pra não falar pior. Um monte de ruas estreitas com um comércio de bugigangas, comidas e diversos tipos de pirataria durante o dia. Na noite ainda ficava um povo bebendo nas ruas, moças da difícil vida fácil se obsequiando pras pessoas, e ainda dava pra ler as placas em alguma entrada de prédio detonado dizendo: “Quarto com Janela: R$ 15,00, Quarto interior: R$ 10,00, Hora: R$ 5,00”. Fomos fortemente desencorajados a transitar no local durante a noite.
Perto do hotel também ficam as Docas, onde o cais foi transformado num enorme ambiente de restaurantes, lojinhas de artesanato, choperia, sorveteria, etc. Com espaço coberto ou na frente do rio, com música ao vivo. Muito bem acabado e agradável. Bem turístico. Comemos diumtudo. Pato no Tucupi, maniçoba, peixe de tudo que é jeito, farinhas, muito sorvete de frutas típicas, açaí tradicional, isto é, a pasta de açaí com a farinha d’água grossa, que deixa crocante.
Pra gente conhecer uma cidade, tem que ir no mercado público. Não tem jeito. É ponto obrigatório. O Ver-O-Peso, de Belém, é uma área enorme, razoavelmente organizada por setores, alguns cobertos com lona, outros abertos onde tem de tudo, com exceção de produtos industrializados.
Tem uma zona com farinhas (é incrível a variedade de produtos que se consegue fazer com mandioca), outra com ervas e remédios da região, outra com as misturas (que são as partes que se colocam em feijoada, maniçoba e outros pratos do mesmo tipo), outra com pimentas, outra com produtos feitos com as folhas da incrível variedade de palmeiras locais, outra com artesanato de barro, outra com as frutas. No prédio, onde deve ter sido o início do mercado, só se vende peixe. Tudo fresco. A variedade é muito grande e os tamanhos também. Tem uma área aberta pras cestas cheias de açaí, carne de gado (sem refrigeração nenhuma) e frutas mais comuns no sul do país.
Mas, o grande apelo do mercado é a área onde chegam os barcos. No seu entorno, desde cedíssimo (fomos pra lá às 5h) se cria um muvucão com gente vendendo e comprando peixe direto dos pescadores. É algo indescritível. Um comércio fervilhando. Tem gente com balanças pra pesar quantidades grandes, chegam alguns caminhõezinhos frigoríficos pra comprar peixes pros restaurantes, tem gente com umas carroças puxadas a mão carregando os produtos de um lugar pro outro, tem gente filetando os peixes, tem jogatina por dinheiro, tem uns bebuns que viraram a noite, tem gente dormindo nos barcos, tem muito urubu só urubuzando, tem gente que vai conseguir só um peixinho pro almoço, tem gente (com uma proteção na cabeça) que só carrega isopor cheio de um lugar pro outro, tem gente vendendo cesta para colocar peixe pros pescadores. Aparentemente uma zona total. Mas, pelas 9h já quase não tem mais peixe, o pessoal já passou um jato d’água pelo chão, a maré já mudou e não se tem ideia do enlouquecimento que se passou por ali.

Perto do mercado está o Forte do Presépio, ou do Castelo, que é onde nasceu a cidade, de onde se pode avistar o Ver-O-Peso e que possui um museu bem interessante com cerâmica marajoara. Ainda em volta, tem a casa das 11 janelas, que hoje funciona como museu de arte contemporânea. Perto do centro também tem o Mangal das Garças, que é um parque bem arrumadinho com muitas aves soltas e algumas atrações pagas (borboletário, gaiola de pássaros e uma torre de observação). Mais distante do centro fomos no Parque Emílio Goeldi, que estava com muitas obras em construção ou reforma, mas é muito interessante. Ali conhecemos a famosa e linda vitória-régia e um jacaré-açú de um monte de metros.
Vista, de uns 300º, do Mangal das Garças


Bom, ou mau, o mais decepcionante em Belém foi a sujeira. Muita sujeira pelas ruas. Não sei se foi a proximidade com o centro, ou se tudo é realmente sujo mesmo. Mas a impressão é que se encontra lixo atirado por tudo. E perto do mercado tem locais que mais parecem banheiro a céu aberto. Apesar das muitas atrações legais, a cidade como um todo não parece atraente. A chuva, ou o temporal das 15h não deu as caras e não atrapalhou os passeios. Outra coisa que chama a atenção são os inúmeros prédios novos e muuuuito altos na cidade.
Fomos ainda para Mosqueiro que é a região de praias, sempre de rio, mais próximas a Belém, para onde o pessoal da cidade vai no final de semana. Por indicação de ser uma praia mais calma, fomos para Paraíso, um pouco longe do centro. Muitos restaurantes na orla, onde a gente descia um perau e tomava um banho bem bom de rio, ou melhor, de baía do Guajará. Bem agradável. Segundo nos informaram, as praias centrais de Mosqueiro são atrolhadas e é difícil até se locomover por lá.
Acho que estamos ficando velhos. Achamos uma ressaca (de keep cooler quente), nas praias de Mosqueiro, a sonzeira dos carros com seus enormes alto-falantes tocando um tal de Tecnobrega (a expressão não é minha). Que dureza. Troço duro de aguentar e a todo volume. Nada contra o brega, nem contra o tecno. Mas tecnobrega, a todo volume na tua orelha, é uma grande josta. Ontem ainda deu na EmeTeVê uma reportagem sobre o tecnobrega do Pará. A coisa é forte por lá, veja o documentário em: http://www.youtube.com/watch?v=Pcc6bRNsfvc . No jornal local de Belém ainda passou uma reportagem sobre a polícia recolhendo os carros que estavam ultrapassando o limite de decibéis pemitido.
Em Icoaraci, a alguns minutos de Belém, existe um polo de artesanato de cerâmica marajoara. Visitamos alguns artistas e seus ateliers ou oficinas, numa bocada muito escondida. Havia umas 10 lojas de venda de cerâmica e algumas com a fabricação junto. Fomos muito bem recebidos pelo pessoal, que mostrava a oficina, convidava pra olhar todo o processo de fabricação e enfiar a mão no barro. Tudo muito barato. Eles, inclusive, despacham as peças para qualquer lugar do Brasil. Muito bacana os ateliers, e é interessante ver a diversidade das obras, algumas são somente pintadas na cerâmica, outras são com relevo.Tem peças grandes e pequenas e algumas já possuem um design bem sofisticado e moderno, misturando com outros materiais da região, outras são mais tradicionais. Enfim, tem pra tudo que é gosto. Existe também em Icoaraci um espaço comum de comercialização, como uma feira.

Em Belém alugamos uma kombi pros 8 andarem juntos. Tudo bem que não tinha vidro elétrico, alarme, ar-condicionado, direção hidráulica e tinha uma folga de 3 dias na direção. Mas foi excelente andarmos, reclamarmos, rirmos e batermos a cabeça num carro só. Mais de uma vez nos pediram carona achando que éramos um táxi-lotação (as kombis brancas são táxi-lotação em Belém e Marajó). Também, com o motorista pequenininho e moreninho, praticamente um paraense da gema.

Nenhum comentário:

Postar um comentário