sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

San Cristobal de las Casas e Palenque


Dia 10 de janeiro, sexta

O café foi no mesmo restaurante da janta anterior. Bem alimentados, com porções grandes de frutas, iogurte, panquecas, omeletes (e até feijão novamente) seguimos para uma viagem ao estado de Chiapas que duraria mais de 9h. Antes, buscamos as roupas na lavanderia. A estrada até nosso próximo destino é bem melhor do que a que nos levou até Puerto Escondido. Inicialmente costeando o mar, vimos várias praias que pareciam bem bonitas. Em seguida pegamos um trecho pedageado e assim foram 650km até San Cristobal de las Casas, onde ficaríamos 2 noites.Vias expressas, alguns trechos com pedágios, poucas paradas e somente para ir ao banheiro, chegamos pontualmente às 19h no airbnb que era um apto inteiro, 3 quartos, a 7 quadras dos pontos de interesse no centro. Demoramos um pouco para abrir a caixinha de segurança da chave do apto, pois a dona havia nos mandado uma senha errada. Logo saímos a caminhar e encontramos os calçadões movimentadíssimos da cidade. Escolhemos um restaurante vegetariano onde comemos sopa asteca e hambúrgueres. Nas ruas, sempre decoradas com as bandeirolas quadradas rendadinhas, tipicamente mexicanas, muitos indígenas oferecendo artesanato, alguns músicos solitários com o chapéu no chão. Há muitas lojas bacanas, com propostas de artesanato com algum design diferenciado, mas o artesanato do México é lindo, colorido e tem ótimos preços. Os restaurantes, muito variados, de tudo que é tipo de comida, inclusive um grande argentino com uma estátua do Maradona na frente. O Ricardo pediu uma dose de "pox" ou "poch" para provarmos. É uma bebida alcoólica feita de milho, cana-de-açúcar e trigo. Muito forte! Não nos agradou muito... Também compramos queijos variados (que comemos ao longo de vários dias) em uma loja de esquina, de um senhor muito simpático que nos explicou as tradições queijeiras do México e se orgulhava de ter feito queijos premiados em uma feira importante.



Dia 11 de janeiro, sábado

Fizemos um café da manhã "em casa" e partimos para o centro onde cambiamos dinheiro e vimos melhor a praça principal com o coreto, que à noite não percebemos direito. Seguimos para o que seria, conforme disse o Ricardo, a experiência mais diferente e não registrada da viagem: conhecer a igreja do povoado de San Juan de Chomula, a 10km da cidade. Bem na chegada, um grupo indígena tipicamente vestido em seus trajes de lã de ovelha bem descabelados e negros e tecidos coloridos bordados saía de um cemitério onde aparentemente tinham feito alguma cerimônia. Algumas moças já vieram nos abordar vendendo pulseiras, roupas e enfeites. Mas o mais interessante foi a igreja de San Juan Bautista, a principal deste povoado, que por fora é branca, com detalhes em azul-turquesa, tem um pequeno jardim botânico de plantas sagradas e em cujo interior acontecem rituais muito diferentes. Antes de entrar, fomos advertidos que era proibido filmar e fotografar ali dentro. Bem, a igreja não tem bancos, tem capelas de santos dispostas nas laterais, encostadas às paredes e, em frente a elas, muitas mesas com velas acesas que preenchiam todo o tampo circundava toda a igreja. Ou seja, o ambiente era fumacento e iluminado por milhares de velas de vários tamanhos. Mas o mais inusitado eram os rituais que estavam se desenvolvendo. Famílias indígenas sentadas no chão de mármore espalhavam plantas, folhas, pétalas ao redor de velas que acendiam em fileiras também no chão. Enquanto algum adulto da família recitava suas orações ou mantras no idioma tzotzil, falado na região, os adolescentes olhavam seus celulares. No centro havia um espaço quadrado com flores e galhos verdes junto a cruzes dispostas em pé e todas encostadas umas às outras com nomes de pessoas recém-falecidas. Essas plantas todas conferiam um cheiro característico ao templo. Compramos artesanato pelas lojas perto da igreja e voltamos à cidade de San Cristóbal de las Casas para visitar a catedral pintada em amarelo-ocre, com flores brancas na fachada e com um largo enorme na frente. Passeamos pelas ruas bonitas e cheias de atrações no sábado lindo de sol. Compramos algumas lembrancinhas numa loja de resistência feminista e revolucionária zapatista que oferecia muitas coisas legais com mensagens orgulhosas dos povos indígenas de Chiapas. À noite jantamos num pátio comercial com restaurantes e lojas legais. Ao final da janta vimos que estava chuviscando. Primeiros pingos desta viagem. Artur ficou num bar assistindo a um jogo de futebol americano. Débora e Ricardo ainda assistiram algumas músicas de um conjunto que tocava ao vivo um barzinho antes de voltarem para o apto na noite fria. Faziam 10 graus.




Dia 12 de janeiro, domingo

Acordamos cedinho, fizemos supersanduíches para o café da manhã e saímos em direção a Palenque. Estava chovendo fininho e assim permaneceu por quase toda a manhã. A estrada é bem lenta, muitas curvas, muitos quebra-molas ou "topes" em cada povoadinho. Em alguns trechos da estrada ocorreu de sermos parados por crianças que estendiam cordas interrompendo a passagem do carro. Queriam vender cana, manga, banana, cacau. Compramos banana frita para petiscar no carro. É bem triste de ver a quantidade de crianças que trabalham vendendo coisas aos turistas. No meio da viagem entramos na selva Lacandona. Paramos no parque de cascatas chamado Água Azul, um grande conjunto de quedas d'água num rio azulzinho. A cor da água se deve à presença de calcário e hidróxido de magnésio. É tudo muito lindo, enorme volume de água, transparente e azul-turquesa quando bate o sol. Optamos por não tomar banho, a água era friazinha e apesar de ser domingo, havia pouca gente no balneário em função de ser inverno. No balneário, muuuitas banquinhas de artesanato, coisas de baixa qualidade e quase todas iguais. Sempre muito bordado bonito, sempre muito âmbar (ou imitações) e toalhas de mesa, mantas em tear. Chegamos em Palenque pelas 15h e como já não havia tempo para visitar o sítio arqueológico, procurando hotel no booking acabamos no ótimo Misiones, que faz parte de uma rede bem-conceituada. No check in fomos recebidos com um drink de tequila, limão e tamarindo enquanto olhávamos um grupo de oito macacos saraguatos nas enormes árvores do hotel. Lindo! O Ricardo, cansado de dirigir, tirou uma soneca enquanto os demais aproveitaram um descanso junto à piscina, mas só a Luísa, corajosa, tomou banho, pois já estava refrescando e em seguida voltou a chover. Quando saímos para jantar, a chuva apertou e tivemos de ir de carro ao centro da cidade.
  


Dia 13 de janeiro, segunda

Tomamos café da manhã no hotel e descobrimos o que eles chamam de "sincronizado" que veio no prato pedido pelo Artur: um sanduíche de tortilla (óbvio), com pasta de feijão, presunto e queijo - óbvio também que o vegetariano retirou e ofereceu o presunto para os demais. Mais animaizinhos faziam a festa no bosque: corvos cantores que emitem muitos sons diferentes, esquilos pretos e outros pássaros, além de lagartos. Sim, Palenque fica numa floresta! E faz calor, já pela manhã e no inverno! Chegamos ao parque e, após, pagar os ingressos, acessamos o espaço com enormes árvores, espaços com lindos gramados verdes entre os grandes templos piramidais de pedra. Alguns dados impressionam: apenas 2% da cidade está acessível, o resto ainda está tomado pela vegetação e, realmente, pode-se perceber o quanto deve ser difícil "descobrir" cada edifício, pois a floresta engole e esconde cada pedra. Grandes árvores crescem sobre os muros, que acabam virando solo. Em Palanque foi descoberta a tumba do rei Pakal II, governante de mais destaque da civilização. Os achados estão no Museu de Antropologia da Cidade do México. Apesar do calor e umidade, podíamos descansar à sombra depois de cada conjunto de templos visitado. Novamente os grandes e íngremes degraus que levam até o topo das construções impressionaram. Há dois rios no complexo e alguns arroios que foram canalizados pelos maias. Ficamos ali por 3 horas e meia. Em seguida almoçamos e seguimos viagem para nosso próximo destino: Chetumal, na fronteira com Belize, o ponto de partida para explorarmos a península de Yucatán. Foram 6h30min de viagem e 3 estados mexicanos cruzados. Chegamos às 23h na capital do estado de Quintana Roo e o nosso hostess, dono da villa que reservamos pelo airbnb, nos encontrou numa avenida para nos direcionar até a casa alugada, que era bem para fora da cidade, já numa zona rural. Compramos pão, atum, ovos, café e fizemos uma jantinha ao chegar. A casa era bem espaçosa, mas um tanto esquisita nas suas divisões, móveis e adornos - cheinha de quadros e motivos católicos - um grande Jesus crucificado agonizando na sala. Enfim, dormimos bem, com uma chuvinha caindo lá fora. A Luísa confessaria, dias depois, que ficara com medo do lugar, que associou com um filme de terror, acordando durante a noite.







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