domingo, 23 de janeiro de 2011

Canaíma

21, 22 e 23 de janeiro

Pela manhã, novamente o José nos esperava na porta da Pousada, para levar-nos ao aeroporto, onde fizemos o check in na empresa Serami – vôos charter – 12 lugares. Embarcamos às 9h, após um café/suco/coca com torradas (menos para a Mônica que ainda convalecia). O voo foi excepcional, das melhores experiências de toda a viagem, vimos a represa de Pto Ordaz de cima e, chegando na Canaíma o piloto nos brindou com sobrevoos em vários tepuis, inclusive do grandioso Salto Àngel, que fez até um arco-íris para nossas fotos. Os tepuis vistos de cima são muito diferentes: alguns com floresta, vegetação fechada, outros só rochas em diversas formações – fendas e “totens”.  Impressionante, aquela natureza virgem, sem qualquer traço de civilização! Canaíma é o 6º maior parque nacional do mundo, tem 3 milhões de hectares. O solo da região é dos mais antigos da Terra, da época em que a América do Sul se ligava à África formando o supercontinente Godwana.
Ao redor do Ayuantepui (nome do maior de todos os tepuis, onde está o Salto Àngel), há florestas e os rios Carrao e Churun, por onde chegaríamos ao acampamento nesta noite. Bem, o voo, tranquilo, terminou no aeroporto do povoado indígena da Canaíma, onde somente se chega por via aérea. Tampouco se consegue chegar de barco, pois há muitas cachoeiras enormes que impedem a vinda desde as cidades. O aeroporto de Canaíma é, na verdade, uma casinha com telhado de palha, onde se vende bebidas, artesanato, repelente e outras cositas más. Lá no aeroporto, já nos esperava Anderson, um de nossos guias, que nos colocou em um caminhãozinho e levou até o alojamento. Canaíma é uma aldeia onde vivem 1500 índios. Os 3 caminhões, material de construção, mantimentos e até o asfalto para a pista de pouso veio por avião. O local é lindíssimo, uma vila bem cuidada, casinhas simples, canteiros floridos, placas indicativas, tudo bonito. Há duas escolas, uma igreja, um local para usar internet. Os indígenas vivem muito bem ali e são contra a construção de estrada de acesso. Acho que estão certos! Bem, na pousada nos explicaram rapidamente que haviam mudado os planos, ou seja, em 10 minutos deveríamos estar prontos para sair para a grande expedição ao Salto Ángel (o que estava combinado é que a 1ª noite seria na pousada para nos prepararmos para sair na manhã seguinte, rio acima, ao Salto). Em resumo, tivemos que pensar, rapidamente, o que levar para passar uma noite no acampamento, no meio da floresta, dormindo em redes. Eram 11h15 e a expedição sairia às 11h25. As mochilas grandes deveriam ficar na pousada. Durante estes minutos cada família foi para um quarto, colocar roupas de banho, arrumar umas pequenas mochilas e, aos gritos de “Listo?”, Listo???”, pegamos o que deu - as informações eram poucas e contraditórias – “vão de cholas (chinelos)”, outros disseram “vão de tênis”; quando perguntamos “Faz frio?” nos disseram “No, no...”. Assim, totalmente despreparados, atiramos a bagagem numa salinha, como todos do grupo, e subimos novamente no caminhãozinho que em poucos minutos nos deixou na beira do rio Carrao, onde começou nossa aventura de “curiara” (nome que dão à canoa feita com a madeira desta árvore).
Nosso almoço, já dentro da curiara, foi um delicioso sanduíche, bolachinhas, bala de sandia (melancia) e coca cola. A grande canoa, motorizada levou nossas duas famílias, mais o guia Charlie e dois barqueiros – todos eles pemons. Durante os dois dias que passaríamos juntos pudemos comprovar a habilidade e experiência dos capitães que enfrentaram muitos lugares difíceis nos rios. Como estávamos em época de seca, ou melhor, pouca chuva, os rios a cada dia mais baixos, consequentemente, em inúmeros trechos foi preciso empurrar a curiara rio acima. Isto foi extenuante para os barqueiros, o guia, o Cascata e o Ricardo. “Nosotros” ficávamos dentro da canoa, felizes no início e apavorados da metade até o final da viagem, que era prevista para 3h e durou 6h30min! Por sorte, chegamos quando o sol já estava se pondo, mas ainda havia uma claridade para caminhar até o acampamento. Em poucos minutos, já não se enxergava mais nem um palmo à frente, tal a escuridão na floresta. Ficamos com muita pena de um grupo que saiu conosco e chegou apenas às 21h – neste grupo havia duas pessoas com mais de 60 anos de idade. O motor havia quebrado, quando a noite caiu, não enxergavam nada, tiveram que empurrar a canoa no escuro, sem saber onde pisavam, num rio cheio de pedrões, pela floresta. Chegaram esgotados e com muito medo. Ficaram muito brabos com os guias que não tinham nem lanternas ou remos – muito despreparados.
O acampamento é um pavilhão, sem paredes, de chão batido e com telhas tipo brasilit, uma grande mesa com bancos para as refeições. O banheiro era uma nojeira, as mulheres fazendo fila e, após usar o sanitário, buscávamos água em um tonel, lá fora, para despejar no vaso. Uma “cozinha”, também de chão batido, muito simples de onde saíram as refeições. Havia um grande grupo de poloneses e mais outros 2 grupos, no total, uns quatro barcos, ou, uns 40 turistas, conosco e mais os vários indígenas que trabalhavam como guias, barqueiros, cozinheiros e também amarravam as redes. Como chegamos encharcados, trocamos (quem tinha trazido, é claro) de roupa ou nos colocamos junto à fogueira (que estava acesa para assar a janta), para secar as roupas e os tênis e espantar o frio.  Janta: galinha assada em espetos de pau e fogo de chão, com arroz, salada de tomate, pepino e repolho, coca cola, água e de sobremesa, melão. Pelas 23h o gerador foi desligado e reinaram a escuridão e o silêncio, ou melhor, os barulhos da floresta e alguns roncos, algumas tossidas, queixos batendo de frio também, pois a madrugada foi realmente fria para quem veio desprevenido e recebeu uma pequena colchinha para se cobrir na rede. Os homens que “escalaram o rio Churun carregando as curiaras com gente dentro dormiram como pedras. “Acordamos” (alguns sequer pregaram o olho) às 6h para tomar café com vistas ao salto Ángel – muito bonito. No café da manhã – ovo mexido, duas panquecas de milho grossas, presunto, queijo, água, café (muito ruim!!) e leite. Logo saímos para uma caminhada, após atravessar o rio de curiara, para chegar ao mirador – melhor vista para a grandiosa queda d’água. A trilha, morro acima, é muito difícil e longa – muitas raízes, pedras e subida forte, mas vale a pena! É impressionante olhar de baixo a cachoeira com 980m – mais alta cachoeira do mundo – a gente se sente muito pequena! O Salto tem 980m de queda livre e foi “descoberto”, ou melhor, mostrado ao mundo, em 1937 pelo aviador e aventureiro norte-americano James C. Ángel, de quem recebe o nome e cujas cinzas foram lá depositadas a seu pedido. É chamado pelos indígenas de Kerekupai-merú, que na língua pemón quer dizer "salto do lugar mais profundo". Caminhando mais um pouco, pedra acima e pedra abaixo, também foi possível tomar banho em uma grande piscina formada abaixo do Salto Ángel. Muita gente se banhou, escorregou e saltou dos pedrões na água gelada.
Na descida, de volta para o leito do rio também é preciso ter cuidado. Acampamento mais uma vez, agora apenas para almoçar, antes de descer definitivamente os rios e voltar à Canaíma. Almoço: espagueti com guisado e queijo ralado, coca cola, água, pêssego em calda de sobremesa. O retorno, a favor da corrente dos rios, é muito mais rápido e fácil, mesmo assim, foi preciso sair várias vezes para desencalhar o barco ou andar a pé pela margem algum trecho, enquanto os barqueiros manejavam para passar nas corredeiras mais rasas. Em um dos pontos, os gritos de “guentem-se” foram confundidos pelo Ricardo e Cascata com “montem-se”  (ouvidos inúmeras vezes antes) e quase houve um acidente com a curiara, que desceu direto a corredeira em direção a uma enorme pedra de ré. Graças ao capitão, que segurou a canoa no motor contra uma impressionante força da água, foi possível não se espatifar na pedra. Foram 4h30min de viagem. As bundas já não aguentavam mais (e as colunas tb, com o histórico das redes!). Paramos em uma prainha do rio Carrao para um banho refrescante e, chegando na pousada, nos instalaram em dois quartos, com banheiro, tudo mais ou menos, banho frio, mas para quem havia passado nas redes e sem banho, era nota 1000. A janta foi boa – peixe frito, arroz, salada, coca cola, água e melancia. Na Canaíma não é permitida a venda de bebidas alcoólicas, mas, como tudo o que é proibido gera alguma forma de burlar, disseram que há lugares em que se consegue.
Na manhã seguinte mais uma pequena aventura – nos levaram à lagoa Canaíma e, de curiara novamente, fomos a dois saltos, menores, um quase seco – Salto El Sapo e outro muito lindo, Salto Hacha, em que se passava por trás, num caminho de uns 50 metros. Muito bonito, banhos muito refrescantes. Às 14h nosso aviãozinho Caravan saiu do “grande” aeroporto. Canaíma com suas lagoas, vista de cima, é ainda mais linda, uma visão para não esquecer. Novamente estávamos no aeroporto de Pto Ordáz, onde aguardamos umas 2h até embarcar num vôo de linha da Rutaca para Caracas/Maiquetía. Nos aeroportos, especialmente Maiquetía, há um controle e fiscalização ostensiva contra drogas. Muita revisão de malas, gente escolhida aleatoriamente pelos corredores, escoltada por 3 militares e encaminhada a uma sala reservada para ser  revistada. Havia transfer do aeroporto de Maiquetía para o Hotel Catimar (em Catia de La Mar – cidade satélite de Caracas) - meia boca, mas tinha internet, banho quente e restaurante – já que todos dizem para não andar muito pelos arredores. Nos chamou a atenção, aliás, que ninguém fala bem de Caracas. Dizem que é muito feia, nada para visitar e que é muito perigosa. Jantamos lomitos e tomamos cerveja Polar (verde ou azul).
Próximo post desta viagem
Apresentação de todas as fotos da Canaima

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