sábado, 31 de julho de 2010

Floresta Amazônica - Rio Negro

29, 30 e 31 de julho

O Ariaú ( http://www.ariau.tur.br/ ou http://www.ariautowers.com), nosso hotel, é o primeiro que foi construído com este propósito turístico na floresta. Levamos aproximadamente 1 hora e meia de barco de Manaus (Ponta Negra) até lá, sempre subindo o Rio Negro.

A primeira impressão é de uma maluquice só. São 8 torres de “apartamentos” em palafitas sobre o rio e a floresta com passarelas ligando estas torres. A arquitetura é fantástica. As torres são redondas com até 5 andares. No centro de cada andar existe um hall circular com a escada para inteligar os andares e onde ficam as portas de cada um dos apartamento, que vão desde ali até o final da torre. Imagine fatias de um bolo redondo sem o miolo. Assim são os quartos. Cada um com banheiro, sacada com rede para fora, frigobar, camas confortáveis e ar-condicionado. O hotel ainda tem 10 casas diferenciadas e isoladas nas árvores pra quem se dispuser a pagar mais 2 ou 3 mil dólares pela privacidade e algumas firulas. A execução do hotel parece que fui eu quem fez. Tudo mal acabado e torto que a gente fica se perguntando como este trambolho não cai. Tem uma piscina pequena mas muito útil pra criançada. Tem macacos que ficam esperando o horário das refeições, pra ficar na porta do restaurante pedindo comida, subindo em todo mundo e roubando os mais incautos. O hotel tem um quê de Disneylandia ou Beto Carrero também. No meio dos ambientes aparecem umas esculturas de resina de índio ou algum animal da região. Mas nada supera a pirâmide. Depois de andar 1km nas passarelas, entre as árvores, nos deparamos com uma pirâmide com o desenho de um faraó egípcio por fora, e por dentro ar-condicionado com uma musiquinha de meditação, anjinhos pintados nas paredes e tapetes no chão para sentar sob palavras que transmitem sentimentos como: amor, paz e sei lá mais o quê. Só faltou lugar para os ETs. Minto! A 100 metros dali tem um OVNIporto. Pura verdade!!!!

Acho que o hotel está sempre em reforma, até porque é tudo em madeira. Mas eles estão aumentando, inclusive desenvolvendo atrações em alguns lugares por perto. A impressão é que quando o hotel foi instalado não havia grandes, nem pequenas, preocupações com a questão ecológica por ali. Eles andaram levando multas pesadas do IBAMA e parece que estão se alinhando. Até porque a Copa 2014 vem aí e Manaus é sede.

Na época seca ainda são acrescentados uns 2km de passarelas, da entrada do hotel até o rio, já que tudo aqui acontece de barco, ou helicóptero para alguns.

Os pacotes tem todas as refeições incluídas, até porque não tem a opção de sair pra jantar, e o restaurante é bem variado e com boa comida, com uma boa música ao vivo. Quando chegamos fomos incluídos em um grupo (o nosso tinha umas 15 pessoas) e recebemos um guia pra nos acompanhar nos passeios que estão incluídos no pacote e ele ainda tenta te vender outros passeios adicionais. Os guias são locais e muito conhecedores da vida ali. A companhia deles já vale boa parte do passeio.

Em todos os passeios passamos de barco pela copa das árvores, às vezes com motor, às vezes uma paradinha pra ouvir o barulho da bicharada, ás vezes prum lado do rio, às vezes pro outro, em todas as horas do dia. E isto já vale muito.

Visitamos a casa de uma família de caboclos locais que viviam da subsistência e, agora também, com um pouco do turismo. Ali eles apresentam e explicam suas frutas, ervas, raízes, comidas, hábitos e ainda servem uma tapioca feita na hora com cafezinho. Vimos o por do sol do barco. Noutro dia também saímos de barco às 5h30min pra ver o nascer do sol no meio do rio. Pescamos piranha. Saímos de barco na noite pra fazer a tal da focagem do jacaré. Daí, do nada, no meio da escuridão, um dos guias se atira nágua e volta com um jacarezinho. Fizemos uma trilha na selva, de calça comprida e repelente por causa do mosquital, onde o guia foi apresentando o que havia por ali: árvores, frutas, cipós e formigas. Até comi uma larva de borboleta que estava dentro dum coco de babaçu. Sem nojinhos, por favor. O gosto não é ruim nem bom. A sensação diferente é explodir a larva dentro da boca. (Irghhh - colocação da Dé).





Fizemos dois passeios fora do pacote de 3 dias do hotel. Um era a visitação noturna de uma tribo indígena próxima, onde vivem aproximadamente 13 famílias Saterê-Mawe e veríamos um ritual de passagem. Depois de 45 minutos no barco a motor, rio acima, na maior escuridão, chegamos e vimos dois indiozinhos com fogo pra nos receber. Já achei que tudo fosse ser muito falcatrua. Segundo o guia, a tribo faz uma cerimônia de agradecimento todas as noites, venham turistas ou não, mas quando vem os turistas eles dão uma incrementada. Bebemos um líquido de boas-vindas que eles não dizem o que é, mas parece uma bebida fermentada (a Dé acha que eles fermentam cuspindo milho mastigado). Vimos, dentro de uma choupana com uma fogueira, a cerimônia de passagem de um guri de 11 anos pra idade adulta. Ele tem que colocar a mão, por 20 dias seguidos, em uma luva trançada de folhas onde são presas formigas tucanderas vivas que ficam picando a mão. Diz que a dor é tão grande que anestesia a mão por quase um dia. Depois de uma dança com a mão do pobre guri dentro da luva, eles escolhem alguns turistas pra dançar juntos outra música e, por fim fazem uma apresentação do seu grupo musical, que toca muito bem por sinal.

Passada esta parte cerimonial incrementada, nos levam, através do colégio das crianças, para um ambiente iluminado onde vendem alguns artesanatos. Bem mais caros que em Manaus.

A tucháua, que é a líder e pajé da tribo, dá aulas na língua da tribo para a gurizada. Eles também recebem aulas regulares (português, matemática, ...) de uma professora branca que anda, de barco, 80km todos os dias para isto. Também já tem gente ali que foi pra cidade grande, estudou e voltou. A tribo recebe uma atenção diferenciada da FUNAI por ter este contato com turistas. Tirando os exageros, foi interessante estar no local onde eles vivem.



O outro passeio fora do pacote original foi nadar com os botos-cor-de-rosa. Era um dos momentos mais esperados pela criançada. O IBAMA colocou limites para esta atividade porque os botos estavam ficando estressados. São no máximo 30 pessoas por dia, em grupos de 6, e somente 4 dias por semana. Estão por ali uns 10 botos, que o tratador conhece pelo nome, que são chamados com comida. Então, com o grupo dentro d’água, o tratador fica dando peixe na boca dos botos que às vezes saltam para pegá-la. E os turistas do lado tocando e sendo atropelados pelos botos. Muito legal.

Na volta para o hotel, ainda tomamos banho numa prainha de areia branca e água sempre quente e amarelada, às vezes avermelhada, do Rio Negro.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Manaus

28 de julho

Manaus foi uma grata surpresa. Calor como Belém, mas muito limpa e agradável. A cidade é muito grande e esparramada, com poucos prédios altos. Na Ponta Negra, que é bem afastada do centro, tem a praia da cidade, mas ela existe somente nesta época de pouca chuva. A praia some na estação das chuvas. Ali também estão restaurantes e bares.
Segundo o pessoal que falamos, a Zona Franca de Manaus está crescendo, com muitas multinacionais se instalando. São fábricas enormes a caminho do cais da Ceasa. Apesar disto, não se encontram produtos baratos nas lojas da cidade, o que existe são os incentivos às grandes empresas.
O encontro das águas, a poucos minutos de barco a partir do cais da Ceasa, é muito interessante. A temperatura do Solimões é uns 5 graus menor que a do Rio Negro. Isto é muito perceptível. Tu vai indo na água friinha e de repente parece que caiu na piscina das crianças,  com aquele xixizinho amigo. A cor da água do Negro, que também lembra um xixizinho se olhada contra a luz, deve-se basicamente à velocidade do rio e à vegetação, isto é, como ele anda (rio anda?) muito devagar, numa velocidade de 2 km por hora, as plantas que caem nele (e não são poucas) ficam muito tempo no mesmo lugar, e com a temperatura alta também, soltam tanino, que é o que dá a cor. Como nos disseram, vai fazendo um “chá” com as plantas. Isto também baixa o PH da água tornando o rio mais ácido e, consequentemente inibe a proliferação de mosquito nas suas águas. Um banho, ou vários, no rio Negro não tem preço.









Logo na frente de Manaus, do outro lado do rio, existe praticamente um bairro com casas sobre toras de madeira. A madeira chama assacu e não vou fazer piada com isto porque já tá pronta. Tem residências, hortas, bares, igrejas, colégio e até a casa do cachorro, tudo flutuante. Todo mundo tem um barquinho pequeno ou rabeta, que tem um motorzinho, pra se locomover. Ao lado da escola, que tem o barco escolar, também tem praticamente um estacionamento de barquinhos pras crianças irem e voltarem pra casa. Toda a vida acontece de barco. Quando o rio baixa eles vão puxando a casa pra dentro do rio e estão sempre flutuando. Também podem trocar de vizinhança quando quiserem.

Ainda existem também, na margem dos igarapés da cidade, algumas palafitas que foram construídas como última alternativa pela população mais carente no final do ciclo da borracha, pelos idos de 1915 e pelo povo que inchou a cidade quando iniciou a Zona Franca. (para saber mais: http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2008/resumos/R3-1591-1.pdf )
Foram construídos nos últimos anos alguns conjuntos habitacionais, bastante bons, buscando acomodar melhor e mais decentemente o povo das palafitas. O pessoal de lá elogia bastante estas construções.

O Teatro Amazonas faz uma visita guiada legal. Tem grupo saindo a todo momento. É só chegar e esperar a vez. O prédio, do auge do ciclo da borracha, é muito grande e bonito com material importado da Europa, como quase tudo que foi construído por ali nesta época. Ainda demos uma sorte enorme, pois estava se apresentando no teatro a Companhia Brasileira de Ópera com o Barbeiro de Sevilha. Com orquestra e tudo. Um espetáculo de espetáculo. A primeira ópera a gente nunca esquece. Ainda mais se for no teatro Amazonas. Os personagens interagiam com o cenário que era projetado no fundo, como um desenho animado e tinha até legenda, para se entender o italiano. Muito interessante e divertido. Pronto! Vão dizer que isto não é ópera e eu continuo sem assistir!


No Centro Histórico, no Largo São Sebastião, onde está o teatro, também está situado o Tacacá da Gisela, que faz ... isto mesmo. Tacacá ! (http://vejabrasil.abril.com.br/manaus/editorial/m357/comidinhas#taca) É um caldo de tucupi, goma, pimenta e sei lá mais o que servido numa cuia, que é parecida com um porongo, com folhas de jambu e camarões nadando no caldo. Tu ganha um pauzinho pra ir pescando os camarões e as folhas de jambu e vai bebendo o caldo virando direto na boca. Sabe aquela sopa que a gente toma, ou tomava, ou ainda vai tomar, na madrugada voltando pra casa depois da festa? O tacacá é muito mais revigorante e tem um gosto muito bom.

O Tacacá da Gisela ainda promove outras atrações. Numa das noites que passamos ali estava acontecendo um show com músicos locais e na outra noite eles faziam uma sessão de cinema ao ar livre. O ambiente é muito legal. Cadeiras ao ar livre pra quem quiser.

O hostel em que ficamos (http://www.manaushostel.com.br/) era bem arrumadinho. Um quarto com quatro beliches só pra nós. Café da manhã incluído. Os guris estranharam um pouco mulheres entrarem no banheiro masculino, que tinha 3 boxes de banho, e tomarem banho ao mesmo tempo que a gente.

Não conseguimos visitar suficientemente a cidade de Manaus, como ela merecia. Uma volta no mercado, que já estava fechando, mas não é aquela coisa toda como o de Belém. Uma volta pelo centrão que tem alguns prédios históricos, museus e praça com artesanias e camelódromo. Não vimos os parques. Manaus merecia mais tempo, mas ... fica pra próxima.

Ilha de Marajó

25, 26 e 27 de julho

A ida pra Marajó de carro, ou kombi, parte de Icoaraci. E lá estávamos nós às 5:30, já que a barca saía às 6:30. Foram 3 horas e pouco no ferry, que tem sala VIP com ar-condicionado onde cachorro não pode entrar. Ficamos na área comum, que acho que é melhor que a VIP. As tvs ligadas direto na missa - era dia de São Cristóvão - padroeiro dos motoristas! Também dá pra subir lá em cima pra apreciar as belezas do ar.

A balsa chega no porto de Camará e dali são mais uns 20 km até Salvaterra, onde nos hospedamos na Pousada do Boto, onde ficamos em cabanas bem legais e com café da manhã muito gostoso. De Salvaterra até Soure, são uns 5 km, mas tem que passar o rio de balsa, e aí tem horário certo. Há um tempo atrás o barco atracava em Soure, e esta cresceu mais que Salvaterra. Agora a coisa está invertendo um pouco.
Salvaterra tem a Praia Grande, que é onde vai todo o povo. Aquela nhenha de tecnobrega ensurdecendo as criaturas nos barzinhos que ficam no caminho da praia e muuuuita gente nas areias. A praia estava meia suja de lixo jogado pelos humanos e ainda tinha pedras. O povo fica por lá até amanhecer. Não esqueçam que estamos nas férias de verão por lá. Mas as praias de Salvaterra, definitivamente, não tem nada de mais.

Por conta das férias também havia shows e apresentações na praça principal: carimbó; escolha da miss, do mister e do gay da temporada.

Comemos por lá basicamente peixe, em diversas cores e apresentações. Na pousada dos Guarás ( aparentemente a maior da ilha) que fica na beira da praia, e onde não vimos nenhum guará, ainda nos fartamos com o famoso filé marajoara com queijo marajoara, tudo tirado do búfalo. Bom mesmo.


Soure nos pareceu o melhor lugar da ilha. Andamos num barco pelos furos, que é um caminho dágua, muito estreito e que liga dois rios maiores. Anda-se pelo meio da vegetação em meio à fauna que se apresentar: pássaros, macacos e uns peixes que andam pulando feito canguru. O mais impressionante é como o barqueiro encontra a entrada do tal furo. Os furos já são conhecidos, mas o cidadão anda, ou navega, a centenas de metros da margem que é tapada de árvores e quando perguntado: Vai demorar ? Ele responde que está logo ali e aponta para algum lugar da margem dizendo: É ali ó! A gente só vê vegetação onde o cidadão enxerga um “furo”. E, obviamente, lá está o furo.

A cidade de Soure é maior que Salvaterra, tem um comércio maior, artesanato e uma polícia que anda em búfalos. Aliás, o caminhão do lixo é um búfalo do lixo.

As praias de Soure são muito legais. Conhecemos Pesqueiro, que fica a uns 8km da cidade, e a da Fazenda São Jerônimo, que fica a uns 3km. Tem uma areia fina, com muita praia na maré baixa, limpa, água que é um espetáculo, aqui já tem um gostinho de sal, bem de leve. Os nativos ainda pedem pra cuidar com as arraias.

A fazenda São Jerônimo organiza passeios turísticos. Uma das propagandas do local é que ali foi filmada a série de TV, da Globo, “No Limite”. Fazem um roteiro com trilha na mata, passeio de búfalo e igarapés de barco. Umas 2 horas a 50,00 pilas por pessoa. Também tem almoço e uma pequena pousadinha. Mas, pra tudo isto é bom agendar antes por telefone. Chegamos à tarde, sem avisar, e ainda conseguimos um passeio de búfalo bem longo. Segundo nos informaram, tem 4 tipos de búfalos, e suas cruzas, por ali. O que muda são os chifres, a cor e se são mais para carne ou leite. Pilota-se o búfalo mais ou menos como um cavalo. Sela e estribo, mas as rédeas não são presas em um freio na boca do animal e sim a uma argola pendurada no focinho do pobre. O animal anda bem devagarinho e eles prendem um ao outro, com a mesma corda, para carregar a turistada. A bicharada só não cruza em ponte. Passamos por trilhas, praia e igarapés e eles no seu passinho, mas muitas vezes se apertando uns contra os outros, e dá-lhe levantar as pernas para não apertar nas guampas. A gente também ganha uns carrapatos. Coisa pouca. Na época de cheia, nada-se com os búfalos, pelos igarapés, segurando pela cola. Oigalê tchê !





Perto de Salvaterra tem a vila de Joanes, onde ainda existem algumas ruínas de construções jesuíticas e uma praia com alguns bares e barcos de pescadores. Nas praias mais movimentadas tem até salva-vidas, que te mandam voltar mesmo.

A uns 50 km de Salvaterra, em direção ao interior da ilha, por estarada de chão empoeirada e depois de uma balsa, visitamos Cachoeira do Arari. Uma pequena cidade que tem como grande atração o museu organizado pelo falecido padre italiano Gallo, que aborda a região com peças marajoaras, costumes, muitas histórias e curiosidades. Mas, o mais interessante ali é que muitas coisas foram construídas de forma interativa, com mecanismos para mostrar algumas coisas e charadas para os visitantes. Isto tudo foi feito na época da máquina de escrever e mimeógrafo . A comunidade está tentando recuperar o museu que, hoje em dia, está muito largado.

A gauchada já está chegando pras bandas de Marajó pra plantar arroz. Encontramos um gaúcho por lá que não conseguiu se acostumar com o ritmo dos paraenses.No caminho pra Arari já tem fazendas. A estrada ainda é precária, principalmente na época das cheias, mas estão aterrando muitos trechos pra asfaltar. De Arari pra dentro não tem mais estrada, apenas allguns caminhos e barco.

O que deve render um dinheirinho no Pará é guarda-chuva ou guarda-sol. O pessoal usa direto, pois ou está caindo um temporal ou está um calorão dos diabos.


sábado, 24 de julho de 2010

Belém do Pará

22, 23 e 24 de julho

Falta o norte. Já troteamos por muitos lugares, mas falta o norte. Assim resolvemos ir pras bandas da floresta.
Como nesta viagem iríamos com o Cascata, Mônica, Bruna e Gabriel e era alta temporada em função das férias escolares, principalmente no norte, incrivelmente conseguimos organizar toda a logística (onde dormir e carro para andar) a partir de Porto Alegre. Poderíamos cair numa roubada, mas teríamos onde cair dormindo.
No norte as férias escolares têm 1 mês nesta época do ano. Também muitas pessoas fazem as suas férias grandes nesta época, que é chamada de verão por lá, por conta das chuvas diárias que param e só voltam a ser constantes lá pelo final do ano. Então, temos os rios cheios, sem chuvas e um calorão. É alta temporada mesmo. E, acho que realmente é a melhor época pra ir. Os nativos dizem que só têm duas estações - verão de julho a dezembro e inverno (chuvas) de janeiro a junho, mais ou menos assim.
Chegamos a Belém numa quinta no final da manhã. Saindo de 5 graus em POA, e chegando com 35 lá. Ruim é ter que guardar os casacos até o dia da volta. Pegamos um ônibus de linha pro hotel, que ficava no centro histórico.
O hotel em que nos hospedamos (Açaí Tropical) fica no Centro Histórico de Belém, perto do mercado Ver-o-Peso e dentro do centro camelosístico da cidade, que durante a noite se transforma num ambiente não muito seguro, pra não falar pior. Um monte de ruas estreitas com um comércio de bugigangas, comidas e diversos tipos de pirataria durante o dia. Na noite ainda ficava um povo bebendo nas ruas, moças da difícil vida fácil se obsequiando pras pessoas, e ainda dava pra ler as placas em alguma entrada de prédio detonado dizendo: “Quarto com Janela: R$ 15,00, Quarto interior: R$ 10,00, Hora: R$ 5,00”. Fomos fortemente desencorajados a transitar no local durante a noite.
Perto do hotel também ficam as Docas, onde o cais foi transformado num enorme ambiente de restaurantes, lojinhas de artesanato, choperia, sorveteria, etc. Com espaço coberto ou na frente do rio, com música ao vivo. Muito bem acabado e agradável. Bem turístico. Comemos diumtudo. Pato no Tucupi, maniçoba, peixe de tudo que é jeito, farinhas, muito sorvete de frutas típicas, açaí tradicional, isto é, a pasta de açaí com a farinha d’água grossa, que deixa crocante.
Pra gente conhecer uma cidade, tem que ir no mercado público. Não tem jeito. É ponto obrigatório. O Ver-O-Peso, de Belém, é uma área enorme, razoavelmente organizada por setores, alguns cobertos com lona, outros abertos onde tem de tudo, com exceção de produtos industrializados.
Tem uma zona com farinhas (é incrível a variedade de produtos que se consegue fazer com mandioca), outra com ervas e remédios da região, outra com as misturas (que são as partes que se colocam em feijoada, maniçoba e outros pratos do mesmo tipo), outra com pimentas, outra com produtos feitos com as folhas da incrível variedade de palmeiras locais, outra com artesanato de barro, outra com as frutas. No prédio, onde deve ter sido o início do mercado, só se vende peixe. Tudo fresco. A variedade é muito grande e os tamanhos também. Tem uma área aberta pras cestas cheias de açaí, carne de gado (sem refrigeração nenhuma) e frutas mais comuns no sul do país.
Mas, o grande apelo do mercado é a área onde chegam os barcos. No seu entorno, desde cedíssimo (fomos pra lá às 5h) se cria um muvucão com gente vendendo e comprando peixe direto dos pescadores. É algo indescritível. Um comércio fervilhando. Tem gente com balanças pra pesar quantidades grandes, chegam alguns caminhõezinhos frigoríficos pra comprar peixes pros restaurantes, tem gente com umas carroças puxadas a mão carregando os produtos de um lugar pro outro, tem gente filetando os peixes, tem jogatina por dinheiro, tem uns bebuns que viraram a noite, tem gente dormindo nos barcos, tem muito urubu só urubuzando, tem gente que vai conseguir só um peixinho pro almoço, tem gente (com uma proteção na cabeça) que só carrega isopor cheio de um lugar pro outro, tem gente vendendo cesta para colocar peixe pros pescadores. Aparentemente uma zona total. Mas, pelas 9h já quase não tem mais peixe, o pessoal já passou um jato d’água pelo chão, a maré já mudou e não se tem ideia do enlouquecimento que se passou por ali.

Perto do mercado está o Forte do Presépio, ou do Castelo, que é onde nasceu a cidade, de onde se pode avistar o Ver-O-Peso e que possui um museu bem interessante com cerâmica marajoara. Ainda em volta, tem a casa das 11 janelas, que hoje funciona como museu de arte contemporânea. Perto do centro também tem o Mangal das Garças, que é um parque bem arrumadinho com muitas aves soltas e algumas atrações pagas (borboletário, gaiola de pássaros e uma torre de observação). Mais distante do centro fomos no Parque Emílio Goeldi, que estava com muitas obras em construção ou reforma, mas é muito interessante. Ali conhecemos a famosa e linda vitória-régia e um jacaré-açú de um monte de metros.
Vista, de uns 300º, do Mangal das Garças


Bom, ou mau, o mais decepcionante em Belém foi a sujeira. Muita sujeira pelas ruas. Não sei se foi a proximidade com o centro, ou se tudo é realmente sujo mesmo. Mas a impressão é que se encontra lixo atirado por tudo. E perto do mercado tem locais que mais parecem banheiro a céu aberto. Apesar das muitas atrações legais, a cidade como um todo não parece atraente. A chuva, ou o temporal das 15h não deu as caras e não atrapalhou os passeios. Outra coisa que chama a atenção são os inúmeros prédios novos e muuuuito altos na cidade.
Fomos ainda para Mosqueiro que é a região de praias, sempre de rio, mais próximas a Belém, para onde o pessoal da cidade vai no final de semana. Por indicação de ser uma praia mais calma, fomos para Paraíso, um pouco longe do centro. Muitos restaurantes na orla, onde a gente descia um perau e tomava um banho bem bom de rio, ou melhor, de baía do Guajará. Bem agradável. Segundo nos informaram, as praias centrais de Mosqueiro são atrolhadas e é difícil até se locomover por lá.
Acho que estamos ficando velhos. Achamos uma ressaca (de keep cooler quente), nas praias de Mosqueiro, a sonzeira dos carros com seus enormes alto-falantes tocando um tal de Tecnobrega (a expressão não é minha). Que dureza. Troço duro de aguentar e a todo volume. Nada contra o brega, nem contra o tecno. Mas tecnobrega, a todo volume na tua orelha, é uma grande josta. Ontem ainda deu na EmeTeVê uma reportagem sobre o tecnobrega do Pará. A coisa é forte por lá, veja o documentário em: http://www.youtube.com/watch?v=Pcc6bRNsfvc . No jornal local de Belém ainda passou uma reportagem sobre a polícia recolhendo os carros que estavam ultrapassando o limite de decibéis pemitido.
Em Icoaraci, a alguns minutos de Belém, existe um polo de artesanato de cerâmica marajoara. Visitamos alguns artistas e seus ateliers ou oficinas, numa bocada muito escondida. Havia umas 10 lojas de venda de cerâmica e algumas com a fabricação junto. Fomos muito bem recebidos pelo pessoal, que mostrava a oficina, convidava pra olhar todo o processo de fabricação e enfiar a mão no barro. Tudo muito barato. Eles, inclusive, despacham as peças para qualquer lugar do Brasil. Muito bacana os ateliers, e é interessante ver a diversidade das obras, algumas são somente pintadas na cerâmica, outras são com relevo.Tem peças grandes e pequenas e algumas já possuem um design bem sofisticado e moderno, misturando com outros materiais da região, outras são mais tradicionais. Enfim, tem pra tudo que é gosto. Existe também em Icoaraci um espaço comum de comercialização, como uma feira.

Em Belém alugamos uma kombi pros 8 andarem juntos. Tudo bem que não tinha vidro elétrico, alarme, ar-condicionado, direção hidráulica e tinha uma folga de 3 dias na direção. Mas foi excelente andarmos, reclamarmos, rirmos e batermos a cabeça num carro só. Mais de uma vez nos pediram carona achando que éramos um táxi-lotação (as kombis brancas são táxi-lotação em Belém e Marajó). Também, com o motorista pequenininho e moreninho, praticamente um paraense da gema.