domingo, 3 de agosto de 2014

Parque Estadual do Cantão - TO

Parte 2 – Parque Estadual do Cantão

O Parque Estadual do Cantão é uma área protegida de 89.000 ha, criada pelo governo do Tocantins em 1998. Situado ao norte da Ilha do Bananal, na confluência entre o Rio Araguaia e o Rio Javaés, o Parque Estadual do Cantão limita-se com o Parque Nacional do Araguaia, formando assim um conjunto de áreas protegidas de mais de 700.000 ha de extensão. O Cantão orgulha-se em representar o encontro de 3 biomas: a floresta amazônica, o cerrado e o pantanal.  Entre as bocas dos rios do Côco e Javaés, a floresta amazônica penetra em território tocantinense, avançando sobre o domínio do cerrado. O Javaés forma um delta interior, uma vasta planície aluvial repleta de meandros, lagos e canais naturais. Bastante diferente do Jalapão, o Cantão é praticamente selvagem, com pouquíssimos moradores que permanecem no seu interior e auxiliam em práticas de preservação.

Dia 30 de julho, quarta

Bem cedo, na cidade de Palmas, após o café da manhã (ruim, no Hotel Serra Azul), o Cascata foi buscar um carro que havia reservado na locadora, pois para ir até o Parque do Cantão, o Léo, da CCTrekking (http://www.cctrekking.com.br/), poderia conduzir somente 3 ou 4 pessoas em seu carro. Então, fomos em dois carros, metade com o Léo. Leonardo é um carioca / capixaba que mora e investe no turismo na região do Cantão há 4 anos. Segundo ele mesmo, é o único agente de turismo da região. Foi ele quem acompanhou o fotógrafo Zé Paiva em suas expedições para a produção do livro de fotos “Expedição Natureza – Tocantins”. Partimos para o oeste desta vez, a 260 km da capital, onde fica a cidade sede para explorar o PECantão – Caseara.  A certa altura da estrada vimos uma placa indicando o acesso à Miracema do Araguaia – antiga Miracema do Norte (alguém lembrou do caminhoneiro Arlindo Orlando? kkkk). Somente estradas asfaltadas. Vimos muito desmatamento para lavouras, mas também veredas lindas com buritis. Passamos por pequenas cidades onde chamavam a atenção as caixas de tela com carne pendurada, secando ao sol, nas calçadas. Chegamos ao meio dia em Caseara e almoçamos junto à saída da balsa que atravessa o Araguaia levando os automóveis e caminhões para o Pará. Logo em seguida, colocamos toda a bagagem nas lanchas “voadeiras” que nos levariam à ilha, na confluência do rios Coco e Araguaia, em uma praia de areias brancas (“Praia da Ilha”), onde estava o acampamento que seria nossa casa pelos próximos dias. O sol escaldante do início da tarde não nos animou muito, pois o local não dispunha de qualquer árvore. As barracas eram muito boas, novinhas, bem altas, já estavam com colchões, travesseiros e roupas de cama limpinhas para nós. Os dois barqueiros – sr. Manuel e sr. Lourival e a guia (que também é assistente social na cidade), sra. Marluzia nos acompanhariam por todos os dias também, já que todo o acesso às atrações do parque eram pela água do rio. Após o reforço do protetor solar saímos para explorar as margens do rio Coco até chegarmos na sede do PEC, onde caminhamos em uma pequena trilha pelo mato para conhecer as instalações administrativas, muito boas por sinal, com uma estrutura bem completa, uma interessante exposição de fotos e um auditório em que vimos audiovisuais sobre o ecossistema do lugar. Voltando aos barcos, apreciamos muitos pássaros que passavam, de várias cores e tamanhos (o Cascata estava na Disneylândia com a sua super lente) e depois, o show do por do sol multicolorido espelhado nas águas do rio Coco. Escureceu pelas 18h. Chegando ao acampamento, fomos orientados sobre o gerador, que seria desligado às 22h, sobre o jantar e o café da manhã, que seria servido em uma barraca de um acampamento vizinho, superaparelhado. É preciso dizer que muitas famílias montam grandes estruturas de acampamento com TV, ar condicionado, uma cozinha praticamente inteira, etc, etc, etc nas margens do Araguaia nos mês de julho, que é a temporada de verão deles, quando o rio está baixo e forma muitas praias. Estávamos, então, pegando o final da temporada e a sra. que nos serviria as refeições da noite e manhã, estava com sua família ali já há um mês, muito bem instalada. Para nossa surpresa, o banho no pitoresco banheiro sem teto era excelente – água bem agradável, aquecida naturalmente pelo sol durante o dia e com vista para a lua e as estrelas. A janta foi ótima, muita variedade e tudo saboroso! Quando o gerador foi desligado, surgiu o espetáculo do firmamento e toda a Via Láctea exposta aos nossos olhos, algo formidável, que fez a alegria dos fotógrafos Ricardo e Cascata. Dormimos com alguma dificuldade para acostumar com o barulho das balsas passando a cada hora e meia durante a madrugada. Fez bastante frio.

Dia 31 de julho, quinta
Acordamos cedo, pois o sol começava a esquentar demais o interior das barracas já às 7h. O café da manhã foi um sucesso – bolo de chocolate, pães e cuca de coco feitos no acampamento, frios, leite, café, sucos, melancia bem doce... Saímos nas voadeiras às 8h30, em direção ao parque, mais uma vez pelo rio Coco. Após passar algumas partes do rio com um mundão d’água, chegamos a outras rasas, com pouca água, onde os motores das voadeiras eram desligados e elevados para não arrastarem no leito do rio. Nesta época de seca do rio as águas baixam a cada dia. Os barqueiros nos alertaram sobre a quantidade de piranhas e arraias no rio Coco, estas, muito perigosas, que podem gangrenar uma perna com seu ferrão! Atracamos em uma margem do parque e começamos uma caminhada de 6 km, guiados pela Marluzia, mata adentro, até chegarmos em instalações do parque e depois na casa de ribeirinhos que permanecem morando dentro do parque, nos seus ranchos, que já existiam antes do parque ser instituído. Uma mochila muuuuito pesada trazida pela guia foi carregada em revezamento pelo Artur, Ricardo e Gabriel, durante o cansativo trajeto, no calorão daquele dia. Na mochila vinha água, um frango, batatas, outros mantimentos para abastecer a casa dos ribeirinhos que nos receberiam. Chegamos primeiro na casa do sr. Raimundo, muito simpático e conversador e depois, fomos recebidos pelos seus vizinhos, o sr. Levi e a sra. Maria Luisa, um casal bastante humilde, que participa do circuito turístico montado pelo Léo, como uma atividade de turismo de experiência. Assim, a sra. Maria Luisa preparou parte do almoço; a Marluzia preparou frango e batatas que trouxemos na mochila, para complementar. Desta forma, o casal é remunerado para isso, havendo um retorno interessante e uma troca bastante produtiva para quem quer conhecer a forma de vida, conversar com estes cidadãos do local. Almoçamos sentados na principal peça da casinha, em meio à fumaça do fogão à lenha, dos feixes de arroz pendurados no teto (eles plantam arroz para seu consumo), do altar de santos, pretos velhos e remédios (!) do pitoresco rancho. Depois descansamos um pouco nos bancos externos, junto das galinhas, cachorros e da horta, curiosamente montada dentro de canoas velhas. O Cascata ganhou “mudas” de mandioca, sementes das enormes cabaças - que nos chamaram a atenção por serem totalmente fora do que conhecíamos até então deste tipo de planta. Ganhamos carona nas canoas de madeira (as duas feitas do tronco de uma árvore só) para atravessar o Lago Rico, desde o rancho dos nossos anfitriões até um local bem mais próximo do rio, o que diminuiu muito o nosso tempo de trilha para caminhar. Passamos por muitos locais interessantes: lagos grandes, pequenos, secos, vegetação alta, com muitos cipós. Vimos uma graça real, algumas ciganas (pássaros que geralmente andam em bando, com um penacho na cabeça), mas a grande maioria dos animais que poderia estar no local era espantada pelo barulhão das folhas secas amassadas pelos nossos passos. Já de volta ao rio Coco, reencontramos nossos barqueiros, que nos levaram ao acampamento para o ritual de banhos no banheiro a céu aberto, janta maravilhosa, roda de conversa sobre os fatos do dia e, ao apagar do gerador, brincadeiras com luzes, fotos, observação do firmamento iluminado e da fina lua crescente.

Dia 01 de agosto, sexta
Dia de descer o Araguaia. Rio largo, mundão d’água, muito peixe. Em uma margem o Pará, noutra, Tocantins. Numa das explorações nas margens e entrâncias do rio, compramos peixes de um pescador, para garantir o almoço. Os barqueiros e homens do grupo também se animaram a pescar e então, para o almoço, tínhamos piaus, flamenguinhos e tucunarés. Fizemos um piquenique junto ao rio, com peixes assados, uma vinagrete preparada na hora pela Marluzia, farofa, bananas e melancia geladinha. Tudo excelente! O peixe, sem dúvida, foi o melhor da viagem. Descansamos bastante na clareira após o almoço e depois, seguimos para uma praia ótima, deserta, para tomar banho no Araguaia, montamos as cadeiras na areia e ali ficamos aproveitando a tarde, ouvindo histórias do sr. Manuel e do sr. Lourival sobre aviões que haviam caído naquelas bandas. Raramente passava algum pequeno barco ou canoa, ou seja, parecia que estávamos sozinhos naquele mundo. A água do rio estava bem boa, não era fria. De repente os barqueiros e a Marluzia começam a preparar o lanche, tirando das grandes caixas térmicas sucos gelados, mais melancia, sanduíches excelentes. Em seguida exploramos outros braços do rio, onde sempre víamos mais animais, especialmente pássaros, para a alegria dos fotógrafos. A noite seguiu como as anteriores, muita exploração do céu estrelado, identificando as constelações com a ajuda de um programa de computador que mostrava o céu do momento.

Dia 02 de agosto, sábado

Dia de subir o Araguaia. Neste trecho de rio vimos mais movimento, pois é rota para uma cidade maiorzinha, no Pará, chamada Barreira de Campos. Esta cidade, planejada para povoar a região, tem uma estrutura melhor, casas boas, alguns empreendimentos na beira do rio, uma escola bem grandinha, praça, etc. Acontece que a cheia anual do rio por duas vezes invadiu praticamente tudo e isso acabou desanimando muitos moradores que foram embora, para regiões mais afastadas da água. Voltamos ao nosso acampamento, mas antes ainda entramos em alguns braços do rio onde o Cascata fotografou uma ariranha. As ariranhas são abundantes, mas ariscas no Araguaia, assim como os jacarés e botos, cujo dorso víamos eventualmente na superfície d’água, quando subiam para respirar. Meio dia e já era hora de voltarmos à civilização, então, alguns aproveitaram para se despedir do Araguaia em um banho rápido na frente da ilha do acampamento. O Léo nos esperava nas barracas, colocamos as mochilas nas voadeiras e fomos à Caseara almoçar, pagar a parcela que faltava à CCTrekking e voltar à Palmas. Chegando na capital, passamos pela grande Ponte da Amizade e da Integração (ou Ponte FHC), sobre o lago formado pela represa do rio Tocantins, vimos a praia da Graciosa, no mesmo lago, onde há prática de esportes náuticos e paramos em frente ao Palácio Araguaia, apreciando também outros prédios públicos que ficam concentrados na Praça dos Girassóis, a segunda maior praça pública do mundo com uma área de aproximadamente 570 mil m², no centro da cidade. Hospedamo-nos novamente no Hotel Serra Azul. Despedimo-nos do Léo, jantamos risotos em um agradável restaurante de esquina, conversando sobre as aventuras vividas no mais novo estado brasileiro. Às 5h da manhã de domingo, pegamos o avião de volta a nossa Porto Alegre e, assim, terminou mais um período de férias muito bem aproveitado!

Fotos do Cascata na Disneylândia:





terça-feira, 29 de julho de 2014

Jalapão

Parte 1 – Parque Estadual do Jalapão


As terras que hoje correspondem ao território do Tocantins (criado a partir da Constituição de 1988), faziam parte do estado de Goiás. Palmas é uma cidade planejada, fundada em 20 de maio de 1989, com ruas bem largas e poucos prédios altos, divisão urbanística caracterizada por grandes quadras comerciais e residenciais. População em torno de 260.000 habitantes. Faz muito calor no Tocantis durante o dia e à noite pode ser bem fresquinho! O território do Parque Estadual do Jalapão, com uma área de 159.000 ha, está distribuído pelos municípios de Mateiros e São Félix do Tocantins. Criado em 12 de janeiro de 2001, o Jalapão é o maior parque estadual do Tocantins e também o mais conhecido. Até hoje, a grande maioria das terras é de propriedade particular. Fica bem próximo das divisas com o Piauí, o Maranhão e a Bahia. A vegetação no parque é predominantemente a de cerrado ralo e a de campo limpo com veredas.

Dia 24 de julho, quinta
Mais um intervalo de semestres para aproveitar. Desta vez, um dos destinos escolhidos foi o Parque Estadual do Jalapão, no ainda desconhecido, para nós, estado do Tocantins. Saímos de Porto Alegre à tarde, em um grupo reduzido: Mônica, Bruno/Cascata, Gabriel, Débora, Ricardo e Artur. Desta vez as meninas das famílias não toparam e tinham outros planos relacionados à faculdade, é, as crianças cresceram... Viajamos de Gol e chegamos à noite em Palmas, após escala em Brasília. Nos esperava no aeroporto o nosso excelente e já contratado guia Alex (Jalapão Extremo) , com seu carro Toyota SW4, de 7 lugares – na medida para nós todos! Pernoitamos no simples, mas bem perto do aeroporto Hotel Italian Palace. O Ricardo chegou de viagem com febre e gripado e permaneceria assim por mais 3 dias, tomando remédios que faziam a febre ceder por algum tempo.

Dia 25 de julho, sexta-feira

Na TV, vimos que havia nevado no sul em vários pontos nesta madrugada e nós, naquele calorão desde cedo. Saímos logo após o café da manhã (muito bom!), às 8h30, com o Alex, da empresa Jalapão Extremo, para iniciarmos nossa aventura, rumo leste. Ao contratarmos o Alex, já estava incluído, além do transporte, os pernoites, as refeições e entradas nos atrativos. Foi tudo muito prático e, sinceramente, acho que não há outro jeito de se fazer tudo isso sozinho em uma região tão inóspita e mal sinalizada. Foi bem confortável para nós este sistema, além do que, há uma preocupação do guia em deixar renda para os locais, ou seja, muitas vezes almoçamos na casa de pessoas que têm essa renda extra com o turismo. Usando inicialmente apenas estradas asfaltadas e vendo a vegetação do cerrado, andamos vários quilômetros até a primeira atração, ainda fora dos limites do parque, em Taquaruçu, um distrito da cidade que abriga belas cachoeiras. Caminhamos até as Cachoeiras da Roncadeira (70m, há prática de rapel) e Escorrega Macaco (50m), às quais se chega após uma pequena trilha na mata. A água
era bem fria, mesmo assim, o Ricardo, o Gabriel e o Artur encararam o banho na Roncadeira, a mais alta delas. Passamos por alguns distritos de Palmas e depois pela cidade de Ponte Alta do Tocantins, onde comemos picolés do cerrado (pequi, cajá manga, etc) e vimos artesanato de capim dourado. Como faz muito calor (estamos na época do verão deles, que equivale ao período de seca, quando não chove de maio a novembro), os municípios costumam montar estruturas nas praias dos rios para o pessoal aproveitar o tempo de lazer. Em seguida ganhamos a estrada de chão, vermelha e empoeirada, já dentro do Parque Estadual do Jalapão. Almoçamos na Pousada Águas do Jalapão (com piscina, bem estruturada, quartos bons, com ar condicionado e TV), onde ficaríamos esta noite. A comida foi simples e boa. O pessoal daqui sempre come carne seca e farinha – a mistura desta carne batida com a farinha é chamada aqui de paçoca. O clima muito seco e quente estava castigando. A próxima parada foi o canyon da cachoeira Sussuapara, muito interessante, pois é uma fenda no solo que segue o curso de um pequeno (nesta época) rio, onde a vegetação verde se concentra e se pode caminhar pelo canyon percebendo a mudança de clima dentro da fenda e fora dela, no calor do cerrado seco. Mais alguns km de carro e chegamos, por volta das 17h, na enorme formação geológica conhecida como Pedra Furada, para assistir ao por do sol. A Pedra Furada trata-se de um enorme arenito, com suas cores peculiares, do rosinha até o roxo, modelado pelo vento, em meio a uma planície seca. Ao longe, a grande pedra furada lembra o formato de um elefante. Como este é um dos principais pontos turísticos do parque, outros grupos foram chegando depois de nós, todos em camionetes 4X4, o único jeito de rodar nestes lugares. Circundamos a grande rocha e depois nos posicionamos para o por do sol. O Alex nos avisou sobre um enxame de abelhas no local – deveríamos fazer silêncio para não atiçá-las. Já os demais grupos não tinham guias cuidadosos e até mesmo um dos guias foi barulhento e tirou lascas do arenito, falando alto para mostrar a todos, então, as abelhas começaram a atacar e todos tivemos que sair correndo, descendo sem muitos cuidados pelos barrancos. Um grupo de senhoras de mais idade ia na frente “barrando” a correria, pois desciam muuuito devagar para não se machucarem. Foi um festival de picadas. Do nosso grupo, o Ricardo, Cascata e Gabriel foram atingidos. Ainda bem que não havia gente alérgica entre o pessoal! De qualquer forma, já tínhamos visto um grande espetáculo alaranjado do sol se pondo, foi bem bonito. Na pousada, encontramos praticamente os mesmos grupos que estiveram na Pedra Furada. A maioria de brasileiros, mas alguns estrangeiros também.

Dia 26 de julho, sábado

Após o bom café da manhã, saímos às 8h. Este foi o dia mais cansativo, com mais tempo de carro. Mesmo assim, as atrações compensaram – vimos a Cachoeira da Velha, fantástica, com muito volume d’água do rio Novo, que tem águas limpíssimas, conferindo tons verdes e azulados e emoldurada por um cenário lindo de buritis e bastante vegetação verdinha. O lugar foi locação para o filme Deus é Brasileiro, com Antônio Fagundes.  Da cachoeira fizemos uma trilha de 1 km costeando o rio até chegar à Prainha, de areias brancas, outro cenário paradisíaco, onde pudemos nos banhar. A água do rio Novo não é fria, sendo muito agradável para o banho. Neste local há alguma infraestrutura, com banheiros, uma grande escadaria de acesso até o rio, funcionários de turismo que cuidam do atrativo. Como não existe restaurante por perto, neste dia o Alex preparou um lanche reforçado para substituir nosso almoço. E foi excelente – frutas, sucos, pães, patês, frios, frutas secas, paçoca, etc. Na volta, ao longo da estrada (ruim, de areia), vimos muitas queimadas e nelas, vários carcarás procurando pequenos animais para sua refeição. O por de sol deste dia foi nas dunas do Jalapão, outro ponto de encontro obrigatório dos grupos turísticos, que acabam fazendo o roteiro meio junto nestes dias. Várias destas paisagens foram locação para o filme Xingu e também seriados como Survivor (o equivalente do brasileiro “No Limite”) e outros programas de TV. Jantamos no restaurante de um camping, um buffet bem bom. Nos hospedamos nesta noite na Pousada Buritis do Jalapão, de propriedade de um dos muitos gaúchos que vive no Tocantins, onde ficaríamos por 3 noites, já que ela está situada em Mateiros, município muito pequeno, que é sede para explorar o Jalapão.

Dia 27 de julho, domingo

O café desta pousada é um dos piores que provamos na viagem. Como o Ricardo continuava febril e gripado, fomos no posto de saúde de Mateiros pedir uma solução mais rápida, ou seja, uma injeção mesmo. Rapidamente a atendente ligou para o médico, que receitou uma injeção de dipirona + dexametasona na veia e o Ricardo em menos de uma hora estava novo em folha.  Neste dia, mais light, conhecemos 3 dos 187 “fervedouros” que existem na região - apenas 7 são acessíveis para o turismo.  Todos eles ficam em propriedades particulares e cobram R$10,00 por pessoa. Saímos cedinho de roupa de banho e preparados, sempre, com muito protetor solar e repelente. Os fervedouros são nascentes de rios que proveem de grandes buracos do chão e com pressão d’água bem intensa, tanto que pode-se colocar sobre eles sem afundar. É uma sensação de outro mundo, ficar sem chão, sobre uma areia muito fina e branquinha que fica constantemente em suspensão, até os joelhos. Os guris fizeram muitas brincadeiras, entre elas, se empurrando para baixo, subindo nos ombros do outro, até o máximo que a água permitia, mas eram “espirrados” para fora. Algo realmente surreal e fantástico. Acho que foi o mais diferente de tudo nesta viagem. Sem contar o arredor destes poços, margeados em geral por uma vegetação muito verdinha, coqueiros, palmeiras de buritis. A água fica com uma coloração azuladinha, cenário paradisíaco. O primeiro fervedouro que conhecemos foi o mais famoso deles (a maioria dos passeios restringe-se a conhecer este), o “do Ceiça” circundado de bananeiras e onde podem entrar 6 pessoas de cada vez, permanecendo por 20 minutos dentro d´água. Havia um grupo apenas antes de nós, então, esperamos pouco. Dizem que em feriados como carnaval, por exemplo, há filas de horas (!). Depois fomos conhecer a comunidade quilombola Mumbuca, que vive do artesanato de capim dourado. Muitos objetos, enfeites de cabelo, bijuterias deste material, com design bem criativo e tudo muito bem feito. Este foi outro point dos grupos de turistas. O segundo fervedouro que conhecemos foi o “do Soninho”, onde tivemos exclusividade, ninguém além de nós e dos peixinhos (ah, claro, também mutucas!!!) durante várias horas. Almoçamos neste local, no rancho de pau a pique da proprietária das terras, a sra Alaíde.

Depois do almoço ela nos ofereceu umas redes onde relaxamos durante a bobeira que dá após o almoço em dias de sol escaldante. A última atração foi o “Fervedouro dos Buritis”, onde também ficamos a sós, por mais de uma hora, rodeados por muitos peixes, beija flores, borboletas e até um camaleão na vegetação próxima d’água, nos olhando. Mais mutucas. A esta altura já estávamos bem picados de mosquitos e mutucas, mas frente à beleza do lugar, isso é relevado. Este fervedouro é o que tem a cor da água mais azul, muuuuito lindo! É incrível saber que os proprietários de terras tão humildes, casinhas pobres e mal acabadas, tem tal preciosidade nos fundos de seus terrenos. Que bom! É uma ótima fonte de renda que a natureza lhes oferece! Espero que sempre as preservem, pois são preciosidades em meio ao cerrado. No final da tarde, já no centro de Mateiros, os grupos de turistas se encontraram novamente na sorveteria de sabores locais – comemos sorvetes de cagaita, jatobá, murici, pequi, etc. Jantamos no mesmo lugar de ontem, o camping. Aprendemos que o Jalapão é um paraíso das águas em pleno cerrado, um local muito peculiar mesmo de águas limpas abundantes em rios, cachoeiras, fervedouros.

Dia 28 de julho, segunda


Os homens do grupo fizeram um passeio extra – acordaram às 3h50 da madrugada para subir a Serra do Espírito Santo, de onde veriam o nascer do sol. Foram bem agasalhados, pois à noite faz bastante frio. Depois de 45min de carro e mais 45min subindo morro, chegaram ao topo da serra e observaram a o céu estrelado, estrelas cadentes e finalmente, o sol chegando. O café da manhã foi mais tarde, é claro, pelas 10h, quando regressaram à pousada. Perto do horário do almoço seguimos para o estreito rio Formiga, lugar maravilhoso, temperatura da água agradável, limpíssima e pudemos nos banhar, saltar de uma árvore, de uma plataforma de madeira, tudo excelente. Os meninos adoraram este rio. O almoço foi preparado pelo Sr Vicente, em seu rancho junto ao rio. Chama a atenção que em todos estes locais em que almoçamos nas casas das pessoas tudo é muito limpinho, panelas bem brilhosas guardadas nas prateleiras, fogão à lenha tipo mineiro e chão batido dentro do rancho. Sempre a comida foi boa, nenhum tempero muito diferente. No final da tarde ainda fomos à linda e cristalina cachoeira do Formiga, que os guris adoraram. Neste local haviam outros grupos, inclusive o caminhão da expedição Venturas, que, assim como a empresa Korubo, traz grandes grupos, prepara todas as refeições em suas propriedades e instala as pessoas em seus acampamentos com tendas confortáveis, ou seja, tudo muito legal, mas nada de retorno para o povo do local, exceto os ingressos nas atrações. Contato com os morados da região, o turismo de experiência, também é zero.

Dia 29 de julho, terça


Último dia de Jalapão. Muita viagem de carro nos esperava no retorno à Palmas, muita terra vermelha e poeira. Mas antes, a última aventura neste parque estadual – o rafting de 3 horas pelo rio Sono, de água potável, praias bonitas, paisagens lindas, com os sempre presentes buritis. A empresa que nos levou no rafting foi a Novaventura. O trajeto teve níveis 2 e 3 de dificuldade, sendo a maior delas, talvez, a cachoeira Jalapinha. O guia “Peu”, bem experiente, que viveu sempre na região, nos levou em um grande bote e o Rafael acompanhava em caiaque. Bacana, passeio de média emoção, bastante contemplativo. Houve inclusive uma parada para lanche – paçoca (que se comia em folhas de árvore) e rapadura. O almoço foi na propriedade de um casal gaúcho, o Sr Hélio e a sra Odélia, que migraram para o Mato Grosso na década de 70 e há 4 anos estão nesta fazenda no Tocantins, vivendo sem energia elétrica, da agricultura, principalmente mandioca – e que mandioca macia e saborosa! Aliás, foi talvez, o melhor e mais farto almoço da viagem. Muita variedade de salada, vegetais, carnes, tudo no capricho! Gente corajosa, animada e receptiva. Na viagem de volta à capital do estado, paramos para fotografar a Serra da Catedral (cenário do filme Xingu) e o Morro Vermelho, onde o Bruno conseguiu fotos incríveis de araras azuis em seu ninho e voando. Chegamos em Palmas à noite. Já no Hotel Serra Azul, nos esperava nosso próximo cicerone do Tocantins – o Léo (http://www.cctrekking.com.br/), responsável pela programação do Parque Estadual do Cantão. Jantamos no restaurante em frente ao hotel e depois fomos tirar a poeira e descansar.