domingo, 19 de janeiro de 2020

de Campeche a Puebla


Dia 19 de janeiro, domingo

Café da manhã no restaurante La Parroquita, pertinho da catedral, um ambiente agradável e bem típico decorado com as coloridas bandeirolas recortadas. Depois, fizemos algumas fotos na praça do coreto vazia. Pegamos a estrada para Champotón, que beira o mar por um bom trecho e revela uma série de pequenos embarcaderos e molhes com barquinhos de pesca, todos brancos e azul claro. Muitos pelicanos no mar incrivelmente parado desde Campeche, o que lembra uma grande lagoa de águas azuizinhas. Logo na saída da cidade de Campeche, um empreendimento da refinaria da PEMEX - Petróleo Mexicano, empresa dos postos de gasolina em que abastecíamos em geral, por aceitar cartão. Nosso último mergulho no México seria nos balneários do povoado de Miguel Colorado, onde existem pelo menos 7 cenotes, sendo dois que visitamos nesse dia. A comunidade local é proprietária e administra o parque, cobram barato o ingresso e tem ótima estrutura para caiaque e tirolesa. Depois de 2h30min e de andarmos por uma estradinha bem solitária em zona rural, estacionamos no balneário, que é ligado a uma reserva florestal de 8.000 hectares e abriga onças, pumas, roedores de diferentes tamanhos, outros pequenos mamíferos e aves migratórias, também tem cavernas com muitos morcegos. Na trilha que fizemos com guia, vimos macacos-aranha e, novamente, macacos saraguatos, que emitiam seus uivos superfortes e eram ouvidos ao longe. Já no início do percurso fizemos a tirolesa, com duas linhas, de 270m cada uma, sendo uma de 80m de altura e outra de 90m de altura sobre o redondo cenote Azul (que nessa época é esverdeado). Foi lindo sobrevoar aquele paraíso de águas emolduradas por árvores verdinhas vendo lá embaixo pessoas nadando e os caiaques coloridos. Depois da tirolesa, descemos por trilha e também andamos de caiaque e nadamos na água do cenote, muito agradável. Já de volta à autoestrada, nossa direção era a cidade do México. Passamos por plantações de cana-de-açúcar e bananeiras até chegarmos à noitinha em Villahermosa, point dessa noite. A cidade é grande e não muito turística. Tivemos oportunidade de conhecer pouca coisa, após nos hospedamos no bom hotel da rede Sleep Inn (bem no centro, com estacionamento e ótimo café da manhã) e sair para buscar restaurante para jantar, o que não foi nada animador. Sendo domingo à noite, num centro comercial de uma cidade grande, os pequenos restaurantes ou lancherias da praça a duas quadras do hotel eram nada convidativos e, quando vimos ratos revirando os sacos de lixo em frente a esses estabelecimentos, voltamos à tranquilidade e limpeza do hotel para lanchar. Ou melhor, o Ricardo e o Artur ainda se encorajaram de ir procurar uma pizzaria e conseguiram jantar uma pizza vegetariana - pedindo para retirar os 3 itens de carne do sabor que escolheram.



Dia 20 de janeiro, segunda

O dia amanheceu chuvoso e com neblina. Após o completíssimo café da manhã, com opção de feijão com arroz, omelete, batata com legumes e banana frita, além de frutas, cereais, iogurte, leite, pão, bolo, café e suco (!!!) Saímos rumo à Puebla. Na estrada havia, eventualmente, algumas barreiras militares de verificação, assim como em outros estados. Também nos chamou a atenção a venda de papagaios (sim, o animal!) bem ao lado de uma barreira do exército, ou seja, aparentemente esse tipo de comércio é legal. No caminho, muita plantação de cana e também de abacaxi. Forte presença da polícia federal e exército sempre. Quase tivemos um contratempo por conta de termos nos passado no abastecimento de combustível, quando o Ricardo se deu conta, o painel já estava piscando, avisando que havia pouca gasolina. A sorte foi que 12km à frente havia um posto, que não são muito frequentes em todas as estradas em que andamos. O clima ia mudando aos poucos durante a viagem, cada vez mais frio. Muuuitas praças de pedágio. Somente nesse dia, pagamos o equivalente a mais de 150 reais até Puebla! Chegamos à tardinha em Puebla de Los Ángeles e achamos o hotel Gala, superbem localizado, na quadra ao lado do Zócalo e da Catedral. O prédio em que está o hotel é tombado pelo patrimônio histórico, sendo do século XVI, por isso não pode sofrer alterações estruturais - não tem elevador e nem ar condicionado. Foi o primeiro teatro da cidade. Muito bacana, com um enorme portal, pátio interno com fonte e pé direito altíssimo nos quartos. Logo após nos instalarmos, saímos para comprar artesanato no excelente mercado El Parián, a poucas quadras e que oferece as especialidades da região: cerâmica Talavera e doces típicos. Depois ainda deu tempo de conhecer a praça central e jantar num restaurante onde nos despedimos do México com enchilladas aos 3 moles (molhos: verde, vermelho e o de chocolate – este é o famoso “mole poblano”), o Artur foi de lasanha de huitlacoche - um fungo que ataca o milho e é considerado uma iguaria por aqui...E bebemos uma dose de mezcal, que veio servida com um sal próprio ("sal de gusano”, uma mistura de sal, pimenta e vermes desidratados do agave) e fatias de laranja, além de cervejas Victoria. Puebla é uma cidade grande, com lindo centro histórico, museus e igrejas que infelizmente não tivemos tempo de visitar. Aparentemente está bem preparada para o turismo, toda a fiação já é subterrânea na parte antiga, excelentes restaurantes e lindos prédios. Apesar disso, não se vê muito turista estrangeiro.




Dia 21 de janeiro, terça

Tomamos o simples café no terraço do hotel bem cedinho, apreciando a catedral e o vulcão Popocatépetl com seu pico nevado que fumegava ao longe. Em seguida zarpamos para o aeroporto na Cidade do México, a 2 horas de distância. Assim terminava nossa aventura mexicana. Vinte dias de muito aprendizado, diversão e experiências interessantes. Saldo muito positivo, país maravilhoso, com povo acolhedor, seguro nos locais por onde andamos, exceto pela ação dos policiais que acharam uma oportunidade de nos "roubar" na Cidade do México.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Chichén Itzá, Valladolid e Campeche


Dia 17 de janeiro, sexta-feira

Uma viagem de 2h nos esperava e também a volta de um fuso horário, ou seja, "ganharíamos tempo". Saímos cedinho e chegamos às 8h30 para comprar ingressos ao parque do sítio histórico. Em todos os locais que fomos até o momento não há descontos para estrangeiros (nem mesmo estudantes, professores ou idosos, como em alguns países). Para mexicanos sim, há descontos. Inclusive aos domingos, os sítios históricos e algumas atrações são grátis para os mexicanos. Preparados para um sol intenso, contratamos um guia chamado Rodrigo. Ele nos disse seu sobrenome, mas por ser uma palavra em maia muito complicada, nenhum de nós guardou e acabamos, depois, nos referindo a ele como "Rodrigo Maia". Bem, o guia que contratamos por 1 hora apenas, custou 800 pesos mexicanos e foi muito bom, didático, acessava imagens em um tablet para ilustrar suas explicações. 2007 foi a data em que Chichen Itzá passou a ser considerada uma das novas maravilhas do mundo. No verão, 5.000 pessoas por dia visitam Chichén Itzá. Aprendemos muito sobre a atração principal, a pirâmide, seus simbolismos relacionados ao calendário maia e suas referências à agricultura (especialmente do milho), às estações do ano, aos astros. Outro destaque foi a explicação sobre as modificações corporais realizadas nos governantes como forma de beleza e estratificação social (incrustações nos dentes, deformação craneana e ocular - forçavam o estrabismo - produção de cicatrizes). A quadra para jogo de bola de borracha neste sítio arqueológico é a maior de todos os sítios já encontrados e Rodrigo nos explicou sobre o jogo, as equipes, a posição das torcidas, do sacerdote e do governador no estádio. Também nos falou que o capitão da equipe vencedora era sacrificado aos deuses, ou seja, era uma honra morrer assim. Havia bastante treino, mas os jogos oficiais eram realizados em épocas especiais, como forma de ritual sagrado. Houve alternância e mistura entre maias e toltecas no local, o que fica caracterizado nos estilos arquitetônicos inclusive. Pelas 10h já chegavam muitas excursões às ruínas. Os turistas que vão a Cancún costumam incluir visitas a parques temáticos, cenotes (que são mais de 7.000 na península de Yucatán), cidades históricas e ruínas (que também são diversas e bem interessantes). Chichén Itzá, desde 2010, quando foi elevada à maravilha do mundo, é a principal atração em termos de ruínas. Vimos os dois cenotes que ficam no parque, um deles denominado sagrado, bastante profundo, e onde se atiravam oferendas, pessoas eram sacrificadas, amarradas pelas mãos e pés. Rodrigo "Maia" nos contou que fala maia, bem como sua família e que nas escolas da região se ensina o espanhol, o idioma maia e o inglês. Pedimos uma indicação de cenote para tomarmos banho e o guia, que nos falou bem de Tsukán, a 6km do parque. Inicialmente estávamos inclinados a visitar o cenote Il Kil, mas quando soubemos que há filas e que a água acaba sendo gordurosa de tanta gente nadando, desistimos deste. Cansados e com muuuito calor, aceitamos a indicação do Rodrigo e ficamos surpresos positivamente com a estrutura, organização, paisagismo, cuidado do local, que abriu ao público há 7 meses. Éramos apenas nós na água do rio subterrâneo em Tsukán, com 65m de profundidade, dentro de uma caverna com estalactites e estalagmites. A água era fria, mas não gelada, e depois de perder o medo, curtimos o espetáculo da natureza, vendo os peixes nadarem ao nosso lado dentro da água muito transparente. A transparência da água vai a 35m. Esse cenote é uma propriedade particular que foi organizada recentemente para o turismo. Muitas pessoas tem um cenote particular e não o valorizam devidamente, há por exemplo, um que se chama Carwash, pois era usado para lavar táxis antes de ser turístico! Desse em que fomos, pegavam água para os cavalos até alguém comprar as terras. Grande dica do Rodrigo! Nessa noite ficamos na bonita cidade de Valladolid, mais um dos “pueblos mágicos” do roteiro, onde nos hospedamos num hotel bem simplinho, um quarto para os 5 viajantes. Caminhamos por umas ruas de casarios coloniais, a bonita praça central, olhando lojas de artesanato interessantes, depois fomos assistir ao show de som e luzes “Noches de la Heroica Valladolid” que é projetado diariamente (em espanhol e, em seguida, em inglês) na fachada do convento de San Bernardino. Sentamos em uma mureta na calçada depois do largo gramado ao lado do antigo convento, onde as pessoas iam chegando e se acomodando - uma forma muito bacana e inclusiva de lazer. Percebia-se que a maioria do público não era de turistas (pelo menos na edição em espanhol, que assistimos). Esse show é algo impressionante - um espetáculo gratuito, com quase 30 minutos de projeções supercoloridas e animadas, conta a história de dominação dos espanhóis e a vida da civilização maia na região e a participação de Valladolid na independência mexicana. Ficamos todos bastante surpresos com a excelente apresentação! Fomos comer uns petiscos em um barzinho bem legal, próximo do convento, onde tomamos uns drinks, cervejas e mais tarde começou um show com boa música ao vivo, até nos animamos a dançar salsa (ou tentar), com o pessoal local que era bem animado e mais alguns turistas deslumbrados com o ritmo caliente. Nesse centro histórico fizemos tudo a pé, tudo é pertinho e bem seguro.




Dia 18 de janeiro, sábado

Arrumamos as malas, ou melhor, elas estão sempre quase arrumadas e nos preparamos para buscar um local para tomar café. Acabamos num hotel da praça que serve buffet, à beira da piscina. Local legal, num hotel da década de 1970 que já teve seus dias de glória. Comemos omeletes além dos itens do buffet e depois saímos para Campeche. Muitos ônibus deixavam turistas ao redor da praça, o que explica os preços altos de artesanato e souvenirs na cidade. Há boas lojas de bordados, teares, madeira e cerâmica. Numa delas o funcionário chegou a comentar "esso es arte, no artesanía". Verdade mesmo, a qualidade e o acabamento de alguns produtos é evidente. A viagem a Campeche foi longa, por rodovia pedageada. Aliás, desviamos de apenas 1 "caseta de cobro". Campeche fica à beira mar, tem um longo e agradável malecón com diversas áreas de recuo e monumentos ou pontos de interesse ao longo dessa via. Também tem um centro histórico bonito, tombado pela UNESCO, dentro de muralhas que protegiam a cidade colonial dos ataques de piratas. Chegamos pelas 15h ao hotel (sempre reservado durante a viagem, com preços bons e bem básicos), nos informamos sobre as principais atrações e saímos direto para o forte San Miguel, que fica numa colina, tem um ótimo e organizado museu e é bastante fotogênico com suas reforçadas paredes amarelo-ocre. No museu, vários achados arqueológicos importantes, especialmente do sítio arqueológico de Calakmul, entre eles, máscaras funerárias verdes, feitas em jade, com incrustações de conchas e obsidianas. Já caindo o sol, seguimos para o centro, deixando o carro na beira mar, perto da entrada da cidade amuralhada. Ali, depois de atravessar a larga avenida, em um espaço superagradável, conhecemos um enorme monumento com uma escultura bonita, construído em homenagem aos 500 anos do "encontro de culturas" – quanto romantismo para referir-se a tamanho massacre e dominação. Turistas tiravam foto ao pôr do sol, alguns sentados no banco existente ao longo do muro do malecón, olhando o mar e a cidade em frente, com bonitos edifícios novos e antigos. Tiramos foto no letreiro com o nome da cidade e depois caminhamos pela rua 59, o point dos casarios coloridos que corta a parte amuralhada de norte a sul. Duas quadras iniciais desta rua são destinadas a calçadão, com mesinhas na rua, de restaurantes e bares. Comemos umas pizzas, peixes e burritos e depois fomos até a Plaza de la Independência ou (Parque Principal), a uma quadra de distância e, ali, sentados no degrau do belo coreto central, assistimos a mais um belíssimo espetáculo de som e luz projetado nas paredes da enorme Biblioteca (ou Centro Cultural). Apesar de considerarmos o roteiro pior do que o de Valladolid, os efeitos, animações e colorido são lindos. O Artur sentiu falta de uma narração sobre o espetáculo - o que, apesar de tendencioso pró espanhóis, havia no show de ontem! A Catedral, logo em frente à praça, toda iluminada, também emoldurava a paisagem do centro histórico. Bastante interessantes essas atrações públicas e as praças bem cuidadas, superfrequentadas pela população, turistas, cheia de ambulantes em um convívio tranquilo. Depois pegamos umas paletas (picolés - o Ricardo foi de tamarindo) e ainda conseguimos algumas informações turísticas e mapas para planejar a sequência da viagem. Já nos dirigindo para pegar o carro, fomos surpreendidos por um enorme espetáculo de luz, som e águas "dançantes" que acontecia em uma praça à beira mar. Campeche realmente nos surpreendeu positivamente com essa boa estrutura e atrações públicas! Muito educados, os mexicanos respeitam bastante o pedestre, em todas as cidades que passamos, mesmo fora de faixa de segurança, os veículos paravam para as pessoas que queriam atravessar.






terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Lagoa Bacalar e Playa del Carmen


Dia 14 de janeiro, terça

Acordamos bem tarde, fizemos um café e deixamos a casa rural, que ficava a poucos metros da fronteira com Belize. Passamos por Chetumal, que é uma cidade grande, com boa organização e estrutura. Já estávamos em Quintana Roo, estado mais visitado do México, em função de Cancún, das ruínas de Chichen Itzá e dos demais atrativos da região. Em 40min chegamos à Lagoa Bacalar, um destino maravilhoso, algo como um paraíso de areia branquinha, águas limpíssimas, agradáveis, calmas e não muito fundas em lindos tons de azul. Estacionamos facilmente junto à praça do forte San Felipe e caminhamos pela orla para um dos decks com um telhado de palha dentro d'água, onde descansamos e logo nos jogamos para nadar. Havia muitos jovens turistas europeus, alguns norte-americanos e argentinos nesse e noutro local de praia denominado balneário ecológico em que ficamos aproveitando o ambiente. Nos foram oferecidos passeios em lancha, caiaque, SUP, mas preferimos a tranquilidade de olhar aquela imensidão azulzinha de mar e céu e nadar sozinhos. Bacalar é um dos 111 "pueblos mágicos" - uma promoção da secretaria de turismo para destacar lugares peculiares pela sua cultura, natureza, gastronomia, tradição, artesanato ou hospitalidade. O lugar é um encanto, tranquilo, bem próprio para ciclistas, com a avenida asfaltada pertinho da lagoa e próprio também para lentas caminhadas. Fora da superrota turística que envolve Cancún, ainda é uma localidade preservada e que demanda cuidados, já que integra um ecossistema frágil - havia placas alertando sobre a importância dos manguezais, do caracol chivita, molusco endêmico  da lagoa e também os estromatólitos (rochas fósseis formadas em ambientes aquáticos, que, quando acumuladas no fundo de mares rasos, formam uma espécie de recife). Há também orientações, em alguns blogs sobre ser indicado, para preservar o lugar, evitar passeios em barcos a motor, usar protetor solar que não seja biodegradável, hospedar-se à beira da lagoa (pelo impacto dos dejetos e da própria construção na margem da lagoa).A Lagoa Bacalar é um Caribe de água doce, uma maravilha tomar banho naquela água de diversos tons de azul, areia branquinha e depois, não ter de tomar uma ducha para tirar o sal. Almoçamos em um restaurante à beira da lagoa, com um grande gramado e muita sombra de coqueiros, muito agradável. Este é um lugar que merece o título de "mágico". Dali partimos pela autoestrada para Tulum, a umas 2h30min de distância, onde hospedamo-nos no hotel Tulum Inn, pelo Booking, bom custo benefício e bem localizado. Após um banhito, caminhamos pela avenida central até escolhermos o restaurante El Mariachi Loco, onde jantamos e tentaram nos vender uma garrafa de tequila cujo rótulo tinha a nossa foto, feita uns minutos antes à mesa. Aquelas pegadinhas para turista...mas resistimos e não compramos a tal tequila superfaturada! Havia muitos turistas jovens norte-americanos nesse restaurante.




Dia 15 de janeiro, quarta feira

Nosso café da manhã foi numa lancheria bem típica, mas que acabou customizando os pratos a nosso gosto, assim, saímos satisfeitos, especialmente porque na hora de pagar com cartão, pela falta de energia, o responsável nos fez o dólar a um bom preço. Embarcamos no nosso supercarro para conhecer nosso primeiro cenote. O México tem mais de 7 mil cenotes e a maioria está na península de Yucatán. Um cenote se constitui de um acesso a um rio subterrâneo, às vezes algo como um grande buraco circular (solo que desmoronou na superfície e expõe o rio subterrâneo), outras vezes, um “lago” acessível em uma caverna. Zacil Ha (ou Água Clara), onde fomos nesse dia, é um pequeno “lago” circular. Fomos os primeiros a chegar, entramos na água solitos. Zacil Ha é uma propriedade particular pequena, arborizada, bem organizada, com aluguel de cabanas, venda de artesanato, barzinho e até piscinas mesmo, construídas mais ao longe. Mas a grande atração é o cenote. Como há muitos cenotes na região (que desde a época dos maias serviam de abastecimento de água potável), muitas famílias apenas recentemente se deram conta do potencial turístico que tinham em seu quintal, transformando-o em balneário ou pessoas mais empreendedoras construíram toda uma estrutura ao redor do seu cenote particular para explorar. Por estar em um solo calcáreo, a água é muito clara e azulzinha como em todo o Caribe. A transparência da água é impressionante e não nos cansávamos de mergulhar e olhar aquela beleza toda. Saímos do cenote refrescados. O plano era pegar uma praia no tão esperado mar caribenho que ainda não havíamos visto. Pegamos o carro e marcamos um ponto no Google Maps na praia de Akumal, conhecida por ser um santuário de tartarugas. Estávamos ansiosos para usar novamente, dessa vez na companhia de tartarugas marinhas, o snorkel comprado no dia anterior. O plano não deu certo. Acabamos dando de cara com uma cancela onde era cobrado 100 pesos por pessoa apenas para ter acesso à praia. Ou, se quiséssemos ver as tartarugas, pagaríamos 550$ por pessoa com o acesso e tour incluso (sem falar no estacionamento de 50$). Segundo o homem com quem conversamos não seria possível ver as tartarugas pagando apenas a entrada para a praia. Sendo assim, desistimos e seguimos adiante. Na autoestrada, íamos passando pelos enormes parques de diversões Xel Há, Xcaret e por condomínios e resorts luxuosíssimos, que dominam toda a costa impedindo o acesso público ao mar. Uma lástima que a praia esteja privatizada por quilômetros e quilômetros num lugar tão lindo. Já em Playa del Carmen, optamos pelo acesso público da “rua 88”, que é bem organizado, ao final de um calçadão onde há chuveiros, banheiros, uma casinha de informações. Caminhamos dali, pela areia, em direção norte, com vento intenso. Muitas famílias mexicanas se divertiam na praia e também estrangeiros, de várias partes. Neste trecho não há qualquer barraca de venda de bebidas e comidas, exceto uma bem cara no próximo acesso. Aliás, havia uma boa estrutura pública para "discapacitados", com empréstimo de cadeiras especiais, andadores e até carrinhos adaptados para banho de mar, inclusive oferecendo o apoio de pessoal. Dezenas de gaivotas faziam a festa com os salgadinhos oferecidos por adultos e crianças. Alguns ambulantes vendiam frutas descascadas e cortadas, em saquinhos, outros, uns bolinhos. Muito sargaço no mar, mas o banho estava bem agradável. Sempre muito vento! Saindo da praia para o centro da cidade, encontramos nosso apto, alugado pelo airbnb, bem novinho e organizado. À noite saímos para jantar, e, após caminhar muitas ruas e atravessar uma larga avenida, ficamos na típica Taquería El Sabrocito del Fogón, onde havia uma fila, mas logo conseguiram nos acomodar. Caminhamos, após a janta, até a famosa 5ª avenida: o point do movimento, em uma extensa rua com muitas lojas, restaurantes, alguns shoppings bem sofisticados e casas noturnas. Essa avenida fica bem ao lado do mar, então, ainda demos um “pulinho” na areia e percebemos que há, também, muitos restaurantes e barzinhos na beira da praia que são igualmente movimentados.




Dia 16 de janeiro, quinta-feira

Comemos pizzas vegetarianas no café da manhã - que havíamos trazido da caminhada de ontem. Muito boas e baratas! Nossos cafés são assim, reforçados, porque não costumamos almoçar para evitar perder tempo. Nosso rumo neste dia: Cancún. Depois de uns 50 minutos de viagem pela rodovia "interpraias", rodeada de megaempreendimentos como resorts, condomínios, parques temáticos e alguns terrenos ainda virgens, com bastante vegetação. Na zona urbana de Cancún continuavam os megaempreendimentos, especialmente ao lado do mar, mas com alguns restaurantes, lancherias ou lojas menores intermeados. É interessante saber a história de Cancún, que foi implementada a partir da visão do governo de que o turismo trazia mais divisas do que muitos outros produtos mexicanos. Até os anos 70, praia, no México, era sinônimo de Acapulco e a ilha onde atualmente é Cancún, uma grande fazenda de coco, apenas. Chegamos no acesso à Playa Tortuga, de onde saem os barcos para Isla Mujeres e, como chegamos cedo, não havia tanto movimento neste "embarcadero". O mar lindo, com vários tons de azul, areia branquinha, água de temperatura agradável. Somente o vento que era demais, não convidava a ficar muito tempo na sombra dos guarda-sóis. Caminhamos por um tempo, vendo as casas, quiosques construídos sobre decks de casas particulares, onde não havia ninguém, exceto os funcionários limpando o jardim, as casas e piscinas. Depois de um tempo caminhando e um bom banho de mar (nesse local quase sem ondas), voltamos à Playa Tortuga onde sentamos em uma mesinha na areia e pedimos uma guacamole, fritas, iscas de peixe, água e cervejas. Tomamos mais uns banhos de mar e decidimos seguir de carro para o sul, para conhecer mais uma praia de Cancún. Escolhemos Playa Delfines, onde o estacionamento é gratuito (há flanelinhas que solicitam a propina que se quiser dar, bem como para acesso ao banheiro) a faixa de areia é bem mais larga e fofa, difícil de caminhar. Ficamos à sombra de um guarda-sol de palha que faz parte da estrutura do local, ao lado de uma casinha de salva-vidas. Mal a Luísa entrou na água, até o quadril, já foi advertida com apitos do rapaz. O mar era bem agitado, com bastante onda, percebemos que apenas surfistas estavam na água. Algumas pessoas se divertiam bem no raso. O Artur caminhou bastante, até fugir da visão do salva-vidas para entrar mais no mar e depois o Ricardo foi atrás. Aproveitaram bem as ondas … Como não podia deixar de ser, fizemos um lanchinho mexicano acompanhado de uma excelente jarra de limonada de hortelã (com bastante hortelã). A guacamole, sem limão e tomate, não agradou. A taquería que escolhemos para lanchar ficava no lado oposto ao mar, à beira da enorme lagoa que existe entre a ilha e o continente. Havia até um jacaré junto ao restaurante. Retornamos a Playa del Carmen, passando pela ponte que liga Cancún ao continente e nos impressionando com os pórticos dos condomínios e resorts da estrada, um mais imponente que o outro. Já em Playa del Carmen, a janta foi num restaurante italiano bem bacana e bastante frequentado, pertinho do nosso apto, onde a pasta matriciana que compartilhamos era muuuito picante. Compramos sanduíches na cadeia de lojas de conveniências OXXO e bolinhos para agilizar o nosso café da manhã já que queríamos chegar cedo a Chichén Itzá, Patrimônio Cultural da Humanidade e uma das novas maravilhas do mundo.




sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

San Cristobal de las Casas e Palenque


Dia 10 de janeiro, sexta

O café foi no mesmo restaurante da janta anterior. Bem alimentados, com porções grandes de frutas, iogurte, panquecas, omeletes (e até feijão novamente) seguimos para uma viagem ao estado de Chiapas que duraria mais de 9h. Antes, buscamos as roupas na lavanderia. A estrada até nosso próximo destino é bem melhor do que a que nos levou até Puerto Escondido. Inicialmente costeando o mar, vimos várias praias que pareciam bem bonitas. Em seguida pegamos um trecho pedageado e assim foram 650km até San Cristobal de las Casas, onde ficaríamos 2 noites.Vias expressas, alguns trechos com pedágios, poucas paradas e somente para ir ao banheiro, chegamos pontualmente às 19h no airbnb que era um apto inteiro, 3 quartos, a 7 quadras dos pontos de interesse no centro. Demoramos um pouco para abrir a caixinha de segurança da chave do apto, pois a dona havia nos mandado uma senha errada. Logo saímos a caminhar e encontramos os calçadões movimentadíssimos da cidade. Escolhemos um restaurante vegetariano onde comemos sopa asteca e hambúrgueres. Nas ruas, sempre decoradas com as bandeirolas quadradas rendadinhas, tipicamente mexicanas, muitos indígenas oferecendo artesanato, alguns músicos solitários com o chapéu no chão. Há muitas lojas bacanas, com propostas de artesanato com algum design diferenciado, mas o artesanato do México é lindo, colorido e tem ótimos preços. Os restaurantes, muito variados, de tudo que é tipo de comida, inclusive um grande argentino com uma estátua do Maradona na frente. O Ricardo pediu uma dose de "pox" ou "poch" para provarmos. É uma bebida alcoólica feita de milho, cana-de-açúcar e trigo. Muito forte! Não nos agradou muito... Também compramos queijos variados (que comemos ao longo de vários dias) em uma loja de esquina, de um senhor muito simpático que nos explicou as tradições queijeiras do México e se orgulhava de ter feito queijos premiados em uma feira importante.



Dia 11 de janeiro, sábado

Fizemos um café da manhã "em casa" e partimos para o centro onde cambiamos dinheiro e vimos melhor a praça principal com o coreto, que à noite não percebemos direito. Seguimos para o que seria, conforme disse o Ricardo, a experiência mais diferente e não registrada da viagem: conhecer a igreja do povoado de San Juan de Chomula, a 10km da cidade. Bem na chegada, um grupo indígena tipicamente vestido em seus trajes de lã de ovelha bem descabelados e negros e tecidos coloridos bordados saía de um cemitério onde aparentemente tinham feito alguma cerimônia. Algumas moças já vieram nos abordar vendendo pulseiras, roupas e enfeites. Mas o mais interessante foi a igreja de San Juan Bautista, a principal deste povoado, que por fora é branca, com detalhes em azul-turquesa, tem um pequeno jardim botânico de plantas sagradas e em cujo interior acontecem rituais muito diferentes. Antes de entrar, fomos advertidos que era proibido filmar e fotografar ali dentro. Bem, a igreja não tem bancos, tem capelas de santos dispostas nas laterais, encostadas às paredes e, em frente a elas, muitas mesas com velas acesas que preenchiam todo o tampo circundava toda a igreja. Ou seja, o ambiente era fumacento e iluminado por milhares de velas de vários tamanhos. Mas o mais inusitado eram os rituais que estavam se desenvolvendo. Famílias indígenas sentadas no chão de mármore espalhavam plantas, folhas, pétalas ao redor de velas que acendiam em fileiras também no chão. Enquanto algum adulto da família recitava suas orações ou mantras no idioma tzotzil, falado na região, os adolescentes olhavam seus celulares. No centro havia um espaço quadrado com flores e galhos verdes junto a cruzes dispostas em pé e todas encostadas umas às outras com nomes de pessoas recém-falecidas. Essas plantas todas conferiam um cheiro característico ao templo. Compramos artesanato pelas lojas perto da igreja e voltamos à cidade de San Cristóbal de las Casas para visitar a catedral pintada em amarelo-ocre, com flores brancas na fachada e com um largo enorme na frente. Passeamos pelas ruas bonitas e cheias de atrações no sábado lindo de sol. Compramos algumas lembrancinhas numa loja de resistência feminista e revolucionária zapatista que oferecia muitas coisas legais com mensagens orgulhosas dos povos indígenas de Chiapas. À noite jantamos num pátio comercial com restaurantes e lojas legais. Ao final da janta vimos que estava chuviscando. Primeiros pingos desta viagem. Artur ficou num bar assistindo a um jogo de futebol americano. Débora e Ricardo ainda assistiram algumas músicas de um conjunto que tocava ao vivo um barzinho antes de voltarem para o apto na noite fria. Faziam 10 graus.




Dia 12 de janeiro, domingo

Acordamos cedinho, fizemos supersanduíches para o café da manhã e saímos em direção a Palenque. Estava chovendo fininho e assim permaneceu por quase toda a manhã. A estrada é bem lenta, muitas curvas, muitos quebra-molas ou "topes" em cada povoadinho. Em alguns trechos da estrada ocorreu de sermos parados por crianças que estendiam cordas interrompendo a passagem do carro. Queriam vender cana, manga, banana, cacau. Compramos banana frita para petiscar no carro. É bem triste de ver a quantidade de crianças que trabalham vendendo coisas aos turistas. No meio da viagem entramos na selva Lacandona. Paramos no parque de cascatas chamado Água Azul, um grande conjunto de quedas d'água num rio azulzinho. A cor da água se deve à presença de calcário e hidróxido de magnésio. É tudo muito lindo, enorme volume de água, transparente e azul-turquesa quando bate o sol. Optamos por não tomar banho, a água era friazinha e apesar de ser domingo, havia pouca gente no balneário em função de ser inverno. No balneário, muuuitas banquinhas de artesanato, coisas de baixa qualidade e quase todas iguais. Sempre muito bordado bonito, sempre muito âmbar (ou imitações) e toalhas de mesa, mantas em tear. Chegamos em Palenque pelas 15h e como já não havia tempo para visitar o sítio arqueológico, procurando hotel no booking acabamos no ótimo Misiones, que faz parte de uma rede bem-conceituada. No check in fomos recebidos com um drink de tequila, limão e tamarindo enquanto olhávamos um grupo de oito macacos saraguatos nas enormes árvores do hotel. Lindo! O Ricardo, cansado de dirigir, tirou uma soneca enquanto os demais aproveitaram um descanso junto à piscina, mas só a Luísa, corajosa, tomou banho, pois já estava refrescando e em seguida voltou a chover. Quando saímos para jantar, a chuva apertou e tivemos de ir de carro ao centro da cidade.
  


Dia 13 de janeiro, segunda

Tomamos café da manhã no hotel e descobrimos o que eles chamam de "sincronizado" que veio no prato pedido pelo Artur: um sanduíche de tortilla (óbvio), com pasta de feijão, presunto e queijo - óbvio também que o vegetariano retirou e ofereceu o presunto para os demais. Mais animaizinhos faziam a festa no bosque: corvos cantores que emitem muitos sons diferentes, esquilos pretos e outros pássaros, além de lagartos. Sim, Palenque fica numa floresta! E faz calor, já pela manhã e no inverno! Chegamos ao parque e, após, pagar os ingressos, acessamos o espaço com enormes árvores, espaços com lindos gramados verdes entre os grandes templos piramidais de pedra. Alguns dados impressionam: apenas 2% da cidade está acessível, o resto ainda está tomado pela vegetação e, realmente, pode-se perceber o quanto deve ser difícil "descobrir" cada edifício, pois a floresta engole e esconde cada pedra. Grandes árvores crescem sobre os muros, que acabam virando solo. Em Palanque foi descoberta a tumba do rei Pakal II, governante de mais destaque da civilização. Os achados estão no Museu de Antropologia da Cidade do México. Apesar do calor e umidade, podíamos descansar à sombra depois de cada conjunto de templos visitado. Novamente os grandes e íngremes degraus que levam até o topo das construções impressionaram. Há dois rios no complexo e alguns arroios que foram canalizados pelos maias. Ficamos ali por 3 horas e meia. Em seguida almoçamos e seguimos viagem para nosso próximo destino: Chetumal, na fronteira com Belize, o ponto de partida para explorarmos a península de Yucatán. Foram 6h30min de viagem e 3 estados mexicanos cruzados. Chegamos às 23h na capital do estado de Quintana Roo e o nosso hostess, dono da villa que reservamos pelo airbnb, nos encontrou numa avenida para nos direcionar até a casa alugada, que era bem para fora da cidade, já numa zona rural. Compramos pão, atum, ovos, café e fizemos uma jantinha ao chegar. A casa era bem espaçosa, mas um tanto esquisita nas suas divisões, móveis e adornos - cheinha de quadros e motivos católicos - um grande Jesus crucificado agonizando na sala. Enfim, dormimos bem, com uma chuvinha caindo lá fora. A Luísa confessaria, dias depois, que ficara com medo do lugar, que associou com um filme de terror, acordando durante a noite.