terça-feira, 20 de setembro de 2011

Urubici

Feriadão de 20 de setembro! Saímos cedinho no sábado, dia 17, rumo a Urubici – SC. Será que desta vez conseguiríamos ver o Morro da Igreja sem neblina??? Pois é, há uns 16 anos atrás eu, a Luísa na barriga e o Ricardo já estivemos em Urubici, com a Bela e o Santi. Bem, voltando ao relato de 2011 - roupas de frio na mala e lá fomos nós! Amigos / companheiros desta jornada: mais uma vez Cascata, Mônica e “crianças”.

Seguimos até Bom Jesus, onde paramos na praça para pegar folhetos de informações turísticas e aproveitamos para almoçar num restaurante bem simplinho, mas bom. Depois fomos a Ausentes e, para variar, pegamos uma estradinha de chão até Lages/SC. O dia estava bonito e fazíamos algumas paradinhas pelo caminho para fotografar os pomares de macieiras e a serra.

Chegamos à tardinha na Fazenda Cambuim, que fica na beira da estrada, antes de chegar na cidade. A pousada havia sido reservada com antecedência, e tem cabanas muito confortáveis e quentinhas – lareiras, lençol térmico, cobertas de pena (há quanto tempo eu não via...). O local onde fica a pousada é lindo, araucárias, flores, vegetação nativa e, para nossa surpresa – uma grande cachoeira que se avistava da varanda dos quartos. Ainda deu tempo, antes de escurecer, de seguir uma escadaria e chegar a um deck que leva até bem pertinho da cachoeira. Muito linda! Combinamos de jantar na própria pousada – foi preciso reservar a janta antes – para evitar sair à noite pela estrada sinuosa, cheia de sobe e desce até a cidade. Após a janta, jogamos Scotland Yard, em frente à lareira, tomamos um bom vinho (somente os adultos, é claro...) e fomos nanar. O barulho forte da queda d’água ajudou a embalar o sono e, claro, as cobertas de pena também ajudaram! Obs.: algumas cabanas têm hidromassagem, TV LCD, etc, mas não eram as nossas :(

No domingo pela manhã os fotógrafos Ricardo e Cascata, acompanhados pelo Artur, saíram cedinho pelos arredores para tomar algumas fotos da paisagem. Após o café fomos para a principal atração - o Morro da Igreja, que fica a 28km da cidade, por uma estrada ótima, totalmente asfaltada. Infelizmente, mais uma vez, não vimos a tal da Pedra Furada lá de cima, muito menos a famosa vista da serra, pois o morro todo estava completamente coberto pela neblina. O pessoal curtiu mesmo assim e fizeram algumas fotos interessantes em meio àquela névoa toda, que ia e vinha rapidamente, já que o vento era beeeem forte e o frio intenso também!




Na descida do morro aproveitamos para ver a Cascata Véu da Noiva, numa propriedade privada, onde há um restaurante e uma pequena área de lazer. A cascata é bonita, alta, suas águas escorrem bem espalhadas pelas pedras e formam um laguinho embaixo. Seguimos dali para o centro e tivemos uma boa impressão da pequena cidade, que cresceu um tanto em função do turismo de aventura. É possível, identificar uma porção de negócios ligados a esta área, na longa avenida principal (bem, digamos que quase não tem outras ruas). Também paramos nas informações turísticas, pegamos vááários panfletinhos de atrações da região. A construção que se destaca em Urubici é a estranha Igreja Matriz Nossa Senhora Mãe dos Homens. Um prédio com a base em formato de cruz, mas que fica arredondado em cima, com vários telhados e é enorme; na verdade, desproporcional para o tamanho do lugar. Entramos e vimos de dentro os vitrais coloridos, em forma de arco-íris. O espaço interno é enorme, o pé direito é bem alto.

Almoçamos no Aquilo Tudo, restaurante com Buffet por quilo, assim como diz o nome. Era razoável, preço bom. Sobre restaurantes em Urubici, tem um blog que diz “Apesar de ser uma cidade pequena, Urubici possui bons restaurantes e numa quantidade muito maior que eu imaginava. São várias opções para todos os gostos, como bistrôs, cafés, empórios, churrascarias e pizzarias". Conhecemos também, neste dia, inscrições rupestres numas rochas à beira da rodovia que leva a São Joaquim. Mais tarde tivemos a oportunidade de provar uns wraps, doces, sucos, cafés e chás no Canto do Sabiá, local muito aconchegante, com livros para ler, itens de decoração do próprio restaurante que estão à venda, tudo muito original.

Outro local interessante de conhecer foi a criação de trutas do Sr. Hélio, um professor da UFSC que largou tudo e veio para Urubici criar trutas. Muita gente vem pescar ou criar trutas em Urubici, assim como em outras localidades desta serra. A estrutura de criação do Prof Hélio é a maior de todas, tem vários funcionários 24h por dia, pois estes peixinhos dão um trabalhão! São inúmeros tanques, para cada fase e tamanho do peixe e sempre com água corrente. Ele vende a produção para muitos locais do Brasil. Os restaurantes de Urubici têm bastante truta, alguns até se especializaram nisto, como o Átrio, que é bem destacado. O Prof Hélio é um pesquisador muito dedicado, vale a pena ler a entrevista que ele deu sobre o salmão chileno, que nós, brasileiros, consumimos bastante...vejam o alerta aqui.  Consumidor de peixe voraz, o Cascata estava louco de entusiasmo, perguntava muito, acho que gostaria de trabalhar ali....acabamos comprando uns peixes congelados, embalados com isopor e tudo, num supermercado que o prof Hélio nos indicou, pois ele não vende assim, para visitantes. Neste mesmo supermercado, alguns integrantes da excursão adquiriram botinas de caminhada bonitas e duráveis a preços suuuuper módicos.

Jantamos novamente na Fazenda Cambuim, o ritual de tomar o vinho da própria região também foi cumprido. O passeio da segunda-feira foi a cavalo. Os cavalos, alugados na Fazenda Fogo Eterno, eram muito bons. Esta fazenda também é um hotel. As meninas preferiram caminhar. O lugar era lindo, o dia estava ensolarado e quentinho. O Artur ficou muito feliz porque pode galopar bastante no final do passeio. Subimos um morro de onde se tinha uma vista linda da região.

Após este programa, fomos à grande Cachoeira do Avencal, que tem uma estrutura de um pequeno parque, tem dois ou três mirantes legais. Bem bonita! Tivemos tempo ainda de visitar, a 11 km do centro, em uma propriedade particular, a estranha Caverna Rio dos Bugres. Na verdade, não há “a caverna”, ela é mais parecida com uma toca. É que antigamente essas cavernas eram a moradia dos Bugres, como eram chamados, de forma pejorativa, os índios e seus descendentes com brancos. Dizem até que eles mesmos cavaram as rochas. Os bandeirantes também usaram o local. É interessante – são umas 5 ou 6 entradas, praticamente no chão, num local mais alto do mato de araucárias, que levam à mesma galeria interna. Precisa levar lanterna e as entradas são um tanto escondidas. Ficamos brincando de esconde-esconde por um tempinho.

Mais uma noite de sono quentinha nos lençóis térmicos, cobertas de penas e, pela manhã pegamos a estrada de volta, passando pela Serra do Corvo Branco, que tem o maior corte em rocha no Brasil, com 90 metros. É uma fenda impressionante, deixamos os carros em um mirante e caminhamos pelo local, onde apenas 600 metros são pavimentados. Descemos a serra num zigue-zage, que exige freios e muita atenção. Acho difícil passar à noite ou com neblina. Pouco trânsito. Depois do trecho mais perigoso paramos algumas vezes ainda para fotos. Porto Alegre nos esperava, no dia de todos os gaúchos! Chegamos, 20 de setembro!


domingo, 30 de janeiro de 2011

Arquipélago de Los Roques

24, 25, 26, 27, 28, 29 e 30 de janeiro

Às 5h do dia 24/01, acordamos e nos levaram ao aeroporto de Maiquetía novamente. Ainda tivemos que caminhar um tanto, pois nos deixaram no aeroporto para viagens domésticas, mas nosso “teco-teco” para Los Roques saía de um aeroporto auxiliar, ao lado dos outros – há também um aeroporto internacional. Além de nós, mais uma passageira, brasileira – total 9 pessoas. O piloto convidou o Artur para sentar ao seu lado.

Foi um vôo rápido, 50min, barulhento e, especialmente na chegada, indescritível, paisagens de revista. Azuis e verdes de todas as tonalidades no mar, ilhas de areias brancas e alguns barcos passeando no azul. Na pista de pouso se paga uma taxa de 130 BsF para ingresso ao Parque, sim, Los Roques é um Parque Nacional, desde 1972. Muitos pelicanos nos esperavam na pista de pouso, que é na única ilha habitada e com pousadas, escola e algum comércio – Gran Roque. Nossa capitã Erismar, ou Mar, como gosta de ser chamada, também nos esperava com uma camiseta escrita “Velero Houat”. Incrível – a 20 metros da pista de pouso estava a praia e já seguimos no pequeno cais para embarcar em dois pequenos botes que nos levaram até o veleiro. No curto trajeto apreciamos as belezas do mar transparente, muitos peixes e, sempre, muitos pelicanos. O veleiro Houat (nome de uma ilha francesa), marca Beneteau 510, de fabricação francesa, tem 51 pés, 1 metro e 80 de calado e tem 4 cabines (3 suítes), mais a acomodação da tripulação.
A tripulação, de 2 pessoas, era composta pela mocinha-capitã Mar (25 anos!) e pelo Javier, nosso chef de cozinha. Sem brincadeira, ele é chef de cozinha com experiência em muitos restaurantes dos EUA, Caracas e, nos últimos anos, trabalha assim, em veleiros e catamarãs. Nem acreditamos – nós, depois de tantas peripécias e aventuras, dormindo e comendo mal, passando frio, etc, agora estávamos no meio do Caribe, num paraíso, em veleiro particular, com atendimento vip de um chef. O veleiro é espetacular, cada coisa com seu lugar específico, tudo com espaço planejado. O Houat tem um dessalinizador de água que produz 120 litros por hora, mas nos solicitaram para economizar, pois o processo é caro. O banho é frio, mas a gente se acostumou rápido. No espaço de convivência interno, uma sala de refeições com sofá bem confortável, TV LCD com DVD, uma cozinha bem equipada onde há 3 grandes cestas com legumes e frutas. Gabriel e Artur ficaram no quarto sem banherio, o único com beliche. Luísa e Bruna em uma suíte de casal e as demais “parejas” nas melhores suítes, mais espaçosas. Cada um recebeu duas toalhas, fofinhas (viva!!!!). As refeições, só em foto para mostrar... Café da manhã: sucrilhos, arepas, ovos mexidos, queijo, peito de peru, manteiga, suco, leite, café. Outro dia, foram panquecas, mel, geleias, bem ao estilo americano. Não estávamos acreditando na mordomia. Conhecemos primeiro as ilhas mais afastadas da principal Gran Roque – no primeiro dia velejamos até Carenero, onde ancoramos o barco e passamos até a manhã seguinte. Mar saía para pescar em algumas manhãs, em geral convidava seu compadre, capitão do veleiro Soltana, que fazia o mesmo trajeto inicialmente. No dia 25/01, sairam às 6h30min com máscara de mergulho e dois ganchos e voltaram horas depois com vários polvos. Em seguida, zarpamos para Cayo de Agua, onde fizemos um dos o melhores mergulhos. Tentamos chegar a um farol na mesma ilha, mas o caminho não ajudou – cheio de rosetas e espinhos. Apenas o Cascata foi até lá. O resumo do programa é o seguinte: ser levado para ilhas paradisíacas, a cada dia uma diferente, nadar, mergulhar com snorkel e “patas de ranas” (isto tem no veleiro), ver corais, conchas, estrelas do mar, peixes coloridos, etc, todos os dias e ainda por cima ter um grande guarda-sol montado na praia (sempre deserta) e uma grande caixa térmica com refri, água, cerveja, bolachinhas e frutas. Há noite as crianças ficavam lendo, jogando ou assistindo filmes e seriados que trouxeram. A comida era bem variada e deliciosa, sempre à base de peixe fresco. À noite o serviço era à francesa, iniciando pelos drinques e petiscos. Tudo muito chique.
No aniversário da Débora, dia 26/01, o Javier resolveu fazer uma especialidade – polvo (poucos comiam, mas, tudo bem, os pratos do Ricardo e do Cascata iam recebendo pedaços dos vizinhos...), pescado no dia anterior pela Mar! Nos petiscos iniciais tivemos mojito, azeitonas e queijinhos com tostadas; a sobremesa foi brownie. Até pão no forno (ma-ra-vi-lho-so) o chef fazia para o café da manhã! Em um dos jantares tivemos carpaccio de barracuda (pescada pelo Javier) e piña colada, outros dias a entrada foi ceviche com tostadinhas, tudo muito especial. A sobremesa no almoço eram frutas e à noite, um doce – mousse de maracujá, crepe de nutela flambado e por aí...
Conhecemos a ilha de Dos Mosquises – com coqueiros, sombra, o mar com inúmeros tons de azul. Nesta ilha há uma fundação que protege as “tortugas”, a exemplo do Projeto Tamar. Vimos tanques com tartaruguinhas de vários tamanhos. No local também há uns painéis que mostram escavações e achados arqueológicos pré-hispânicos.
As maiores aventuras (e mais assustadoras) no veleiro, foram as velejadas. De Dos Mosquises até Sarquí, no dia 27/01, durou 2 horas e foi muito difícil – a marinheira Mar e o Javier tiveram muito trabalho para içar, controlar as velas e manobrar o veleiro contra o vento, mas ainda conseguiram pescar barracuda neste trajeto!!!

Balançamos muuuuuuito, para os lados, as coisas caíam dentro do barco, as crianças estavam com medo. Tivemos que fechar todas as escotilhas, pois as laterais ficavam literalmente mergulhadas no mar quando pendíamos para um lado – o que acontecia quase todo o tempo. Os louquinhos dos fotógrafos viajaram todo o tempo em cima do veleiro, filmando, fotografando e se divertindo. Vários dramins foram necessários. Visitamos as duas ilhas – Sarquí e Espenquí, lindíssimas, como todas as outras. Quem mergulhou disse que a visibilidade era maior e, realmente, as fotos embaixo d´água ficaram lindas.
No dia seguinte, 28/01, fomos (a motor) para Noronquises, onde a água divide-se drasticamente em azul marinho e azul claro, quase branco. É tradicionalmente a ilha das tartarugas, mas vimos, após muito procurar, duas ou três. O mergulho foi ótimo, peixes e corais lindos. Há um quiosque de madeira feito por uma pousada, mas que é público, tem mesinhas e bancos para descansar. Nesta praia havia um pouco mais gente – uns 5 ou 6 guarda-sóis, com o nosso. Um canto da praia é especial – os corais formam uma grande piscina, com água mais quentinha e muito convidativa. Depois do almoço seguimos para Crasquí, onde encontramos a Nana e o Emerson, que haviam chegado há pouco e estariam hospedados no veleiro Sula-Sula (nome de uma ave local) – somente eles e a tripulação. Como estávamos perto do final de semana e a praia em Crasquí é larga, já haviam iates chegando (disseram que vinham de Caracas para cá) e atracando ao nosso lado. A Nana viu uma estrela do mar quando mergulhava, mas infelizmente não a vimos. Depois de conversarmos bastante, o Emerson e o Ricardo foram até uma ponta da praia, que é uma das mais extensas e tem pescadores que moram em casas bem simples. Vimos o por-do-sol e, em seguida fomos ao veleiro, tomar banho e nos aprontar para voltar à praia, onde jantamos num restaurante dos pescadores. Comemos lagostas enormes, mas não estavam boas, talvez tenha faltado uma preparação mais elaborada, e peixes. Levamos a caixa térmica, com bebidas e vinho branco venezuelano (bem bom!). Havia mais quatro franceses, que estão no veleiro Soltana, jantando também. Na volta para o veleiro, a escuridão total - não havia lua - permitiu vermos o plâncton neon na superfície – incrível!!!
Acordamos no dia 29/01 com chuva, aliás, exceto uma noite, em todas as demais choveu. Formaram-se dois arco-íris no céu. O Cascata estava um pouco indisposto, menos ativo já desde o dia anterior. Após o café da manhã fomos até a Pelona de Rabusquí (pelona = pelada), que é apenas um banco de areia redondo com conchas e uma gramínea. O mergulho foi muito lindo, mas apenas Débora, Ricardo e Artur se dispuseram a ir. Os demais preferiram ficar na praia. A Bruna teve uma alergia nas pernas e braços – talvez da areia e do sol...
Ao sairmos da Pelona, Mar nos levou de ding (era como chamavam os pequenos botes motorizados) até Rabusquí. Neste trecho já não entram veleiros ou barcos de maior calado, apenas lanchinhas ou catamarãs, pois fica na barreira de corais, a profundidade é muito pequena. Fantásticas as cores do mar, não é possível descrever a beleza. Dezenas de estrelas do mar, a maioria muito grandes, alguns mergulharam e tiraram fotos com elas. Neste local há mangues e, segundo nossa capitã, mais próximo da ilha, junto à vegetação, muito “puri-puri”, mosquitinhos como borrachudos, ou menores, cuja picada queima a pele. A moleza de ser servido e ser levado para passear estava acabando....snif.... Depois do almoço velejamos até Madrisquí, ilha já bem próxima a Gran Roque. Foi um passeio, velejamos muito tranquilamente. Madrisquí tem iates ancorados e tem casas brancas de “veraneio” que já existiam antes do Parque Nacional ser instituído, estão sempre a ponto de desapropriá-las...as casas tem dessalinizadores. Por incrível que pareça, Mar nos informou que as pousadas e casas de Gran Roque também funcionam com dessalinizador. E chegou o dia 30/01 – acordamos cedo e alguns foram até a praia para dar o último mergulho. Como estava meio nublado e choveu, apenas o Artur e o Ricardo se animaram a entrar na água, disseram que o mar estava muito revolto para o mergulho.
Arrumamos as malas e pedimos para conhecer o povoado de Gran Roque, já que metade do grupo viajaria neste dia às 15h, para o Brasil. Cascata e família ainda teriam mais dois dias em uma pousada, pois haviam solicitado transferência do seu vôo para o dia 01/02. Os adultos foram à vila, as crianças preferiram ficar e se despedir lentamente do veleiro. O povoado é muito bonitinho, casas e pousadas bem cuidadas, charmosas e coloridas. Tudo bem limpo. Quando a Mônica e o Cascata foram confirmar a transferência do vôo, a surpresa: não havia sido transferido e, portanto, deveriam sair dentro de 30 minutos da ilha, no próximo aviãozinho!! A correria foi grande: voltar para o veleiro, terminar as mochilas, despedir-se e...embarcar. Deu tudo certo, mas foi um tanto estressante. Ricardo e família ainda puderam almoçar num café ao lado da pista de pouso, tirar umas fotos na vila e embarcaram às 15h rumo a Maiquetía e... à realidade. Na segunda-feira, dia 31/01, Débora já estava trabalhando à tarde... Cascata, Mônica e as crianças tiveram que ficar mais uma noite no  Hotel Catimar, para voltar ao Brasil em 31/01. Foi uma graaande viagem, muitas experiências e paisagens que nunca sairão da retina!!!!

domingo, 23 de janeiro de 2011

Canaíma

21, 22 e 23 de janeiro

Pela manhã, novamente o José nos esperava na porta da Pousada, para levar-nos ao aeroporto, onde fizemos o check in na empresa Serami – vôos charter – 12 lugares. Embarcamos às 9h, após um café/suco/coca com torradas (menos para a Mônica que ainda convalecia). O voo foi excepcional, das melhores experiências de toda a viagem, vimos a represa de Pto Ordaz de cima e, chegando na Canaíma o piloto nos brindou com sobrevoos em vários tepuis, inclusive do grandioso Salto Àngel, que fez até um arco-íris para nossas fotos. Os tepuis vistos de cima são muito diferentes: alguns com floresta, vegetação fechada, outros só rochas em diversas formações – fendas e “totens”.  Impressionante, aquela natureza virgem, sem qualquer traço de civilização! Canaíma é o 6º maior parque nacional do mundo, tem 3 milhões de hectares. O solo da região é dos mais antigos da Terra, da época em que a América do Sul se ligava à África formando o supercontinente Godwana.
Ao redor do Ayuantepui (nome do maior de todos os tepuis, onde está o Salto Àngel), há florestas e os rios Carrao e Churun, por onde chegaríamos ao acampamento nesta noite. Bem, o voo, tranquilo, terminou no aeroporto do povoado indígena da Canaíma, onde somente se chega por via aérea. Tampouco se consegue chegar de barco, pois há muitas cachoeiras enormes que impedem a vinda desde as cidades. O aeroporto de Canaíma é, na verdade, uma casinha com telhado de palha, onde se vende bebidas, artesanato, repelente e outras cositas más. Lá no aeroporto, já nos esperava Anderson, um de nossos guias, que nos colocou em um caminhãozinho e levou até o alojamento. Canaíma é uma aldeia onde vivem 1500 índios. Os 3 caminhões, material de construção, mantimentos e até o asfalto para a pista de pouso veio por avião. O local é lindíssimo, uma vila bem cuidada, casinhas simples, canteiros floridos, placas indicativas, tudo bonito. Há duas escolas, uma igreja, um local para usar internet. Os indígenas vivem muito bem ali e são contra a construção de estrada de acesso. Acho que estão certos! Bem, na pousada nos explicaram rapidamente que haviam mudado os planos, ou seja, em 10 minutos deveríamos estar prontos para sair para a grande expedição ao Salto Ángel (o que estava combinado é que a 1ª noite seria na pousada para nos prepararmos para sair na manhã seguinte, rio acima, ao Salto). Em resumo, tivemos que pensar, rapidamente, o que levar para passar uma noite no acampamento, no meio da floresta, dormindo em redes. Eram 11h15 e a expedição sairia às 11h25. As mochilas grandes deveriam ficar na pousada. Durante estes minutos cada família foi para um quarto, colocar roupas de banho, arrumar umas pequenas mochilas e, aos gritos de “Listo?”, Listo???”, pegamos o que deu - as informações eram poucas e contraditórias – “vão de cholas (chinelos)”, outros disseram “vão de tênis”; quando perguntamos “Faz frio?” nos disseram “No, no...”. Assim, totalmente despreparados, atiramos a bagagem numa salinha, como todos do grupo, e subimos novamente no caminhãozinho que em poucos minutos nos deixou na beira do rio Carrao, onde começou nossa aventura de “curiara” (nome que dão à canoa feita com a madeira desta árvore).
Nosso almoço, já dentro da curiara, foi um delicioso sanduíche, bolachinhas, bala de sandia (melancia) e coca cola. A grande canoa, motorizada levou nossas duas famílias, mais o guia Charlie e dois barqueiros – todos eles pemons. Durante os dois dias que passaríamos juntos pudemos comprovar a habilidade e experiência dos capitães que enfrentaram muitos lugares difíceis nos rios. Como estávamos em época de seca, ou melhor, pouca chuva, os rios a cada dia mais baixos, consequentemente, em inúmeros trechos foi preciso empurrar a curiara rio acima. Isto foi extenuante para os barqueiros, o guia, o Cascata e o Ricardo. “Nosotros” ficávamos dentro da canoa, felizes no início e apavorados da metade até o final da viagem, que era prevista para 3h e durou 6h30min! Por sorte, chegamos quando o sol já estava se pondo, mas ainda havia uma claridade para caminhar até o acampamento. Em poucos minutos, já não se enxergava mais nem um palmo à frente, tal a escuridão na floresta. Ficamos com muita pena de um grupo que saiu conosco e chegou apenas às 21h – neste grupo havia duas pessoas com mais de 60 anos de idade. O motor havia quebrado, quando a noite caiu, não enxergavam nada, tiveram que empurrar a canoa no escuro, sem saber onde pisavam, num rio cheio de pedrões, pela floresta. Chegaram esgotados e com muito medo. Ficaram muito brabos com os guias que não tinham nem lanternas ou remos – muito despreparados.
O acampamento é um pavilhão, sem paredes, de chão batido e com telhas tipo brasilit, uma grande mesa com bancos para as refeições. O banheiro era uma nojeira, as mulheres fazendo fila e, após usar o sanitário, buscávamos água em um tonel, lá fora, para despejar no vaso. Uma “cozinha”, também de chão batido, muito simples de onde saíram as refeições. Havia um grande grupo de poloneses e mais outros 2 grupos, no total, uns quatro barcos, ou, uns 40 turistas, conosco e mais os vários indígenas que trabalhavam como guias, barqueiros, cozinheiros e também amarravam as redes. Como chegamos encharcados, trocamos (quem tinha trazido, é claro) de roupa ou nos colocamos junto à fogueira (que estava acesa para assar a janta), para secar as roupas e os tênis e espantar o frio.  Janta: galinha assada em espetos de pau e fogo de chão, com arroz, salada de tomate, pepino e repolho, coca cola, água e de sobremesa, melão. Pelas 23h o gerador foi desligado e reinaram a escuridão e o silêncio, ou melhor, os barulhos da floresta e alguns roncos, algumas tossidas, queixos batendo de frio também, pois a madrugada foi realmente fria para quem veio desprevenido e recebeu uma pequena colchinha para se cobrir na rede. Os homens que “escalaram o rio Churun carregando as curiaras com gente dentro dormiram como pedras. “Acordamos” (alguns sequer pregaram o olho) às 6h para tomar café com vistas ao salto Ángel – muito bonito. No café da manhã – ovo mexido, duas panquecas de milho grossas, presunto, queijo, água, café (muito ruim!!) e leite. Logo saímos para uma caminhada, após atravessar o rio de curiara, para chegar ao mirador – melhor vista para a grandiosa queda d’água. A trilha, morro acima, é muito difícil e longa – muitas raízes, pedras e subida forte, mas vale a pena! É impressionante olhar de baixo a cachoeira com 980m – mais alta cachoeira do mundo – a gente se sente muito pequena! O Salto tem 980m de queda livre e foi “descoberto”, ou melhor, mostrado ao mundo, em 1937 pelo aviador e aventureiro norte-americano James C. Ángel, de quem recebe o nome e cujas cinzas foram lá depositadas a seu pedido. É chamado pelos indígenas de Kerekupai-merú, que na língua pemón quer dizer "salto do lugar mais profundo". Caminhando mais um pouco, pedra acima e pedra abaixo, também foi possível tomar banho em uma grande piscina formada abaixo do Salto Ángel. Muita gente se banhou, escorregou e saltou dos pedrões na água gelada.
Na descida, de volta para o leito do rio também é preciso ter cuidado. Acampamento mais uma vez, agora apenas para almoçar, antes de descer definitivamente os rios e voltar à Canaíma. Almoço: espagueti com guisado e queijo ralado, coca cola, água, pêssego em calda de sobremesa. O retorno, a favor da corrente dos rios, é muito mais rápido e fácil, mesmo assim, foi preciso sair várias vezes para desencalhar o barco ou andar a pé pela margem algum trecho, enquanto os barqueiros manejavam para passar nas corredeiras mais rasas. Em um dos pontos, os gritos de “guentem-se” foram confundidos pelo Ricardo e Cascata com “montem-se”  (ouvidos inúmeras vezes antes) e quase houve um acidente com a curiara, que desceu direto a corredeira em direção a uma enorme pedra de ré. Graças ao capitão, que segurou a canoa no motor contra uma impressionante força da água, foi possível não se espatifar na pedra. Foram 4h30min de viagem. As bundas já não aguentavam mais (e as colunas tb, com o histórico das redes!). Paramos em uma prainha do rio Carrao para um banho refrescante e, chegando na pousada, nos instalaram em dois quartos, com banheiro, tudo mais ou menos, banho frio, mas para quem havia passado nas redes e sem banho, era nota 1000. A janta foi boa – peixe frito, arroz, salada, coca cola, água e melancia. Na Canaíma não é permitida a venda de bebidas alcoólicas, mas, como tudo o que é proibido gera alguma forma de burlar, disseram que há lugares em que se consegue.
Na manhã seguinte mais uma pequena aventura – nos levaram à lagoa Canaíma e, de curiara novamente, fomos a dois saltos, menores, um quase seco – Salto El Sapo e outro muito lindo, Salto Hacha, em que se passava por trás, num caminho de uns 50 metros. Muito bonito, banhos muito refrescantes. Às 14h nosso aviãozinho Caravan saiu do “grande” aeroporto. Canaíma com suas lagoas, vista de cima, é ainda mais linda, uma visão para não esquecer. Novamente estávamos no aeroporto de Pto Ordáz, onde aguardamos umas 2h até embarcar num vôo de linha da Rutaca para Caracas/Maiquetía. Nos aeroportos, especialmente Maiquetía, há um controle e fiscalização ostensiva contra drogas. Muita revisão de malas, gente escolhida aleatoriamente pelos corredores, escoltada por 3 militares e encaminhada a uma sala reservada para ser  revistada. Havia transfer do aeroporto de Maiquetía para o Hotel Catimar (em Catia de La Mar – cidade satélite de Caracas) - meia boca, mas tinha internet, banho quente e restaurante – já que todos dizem para não andar muito pelos arredores. Nos chamou a atenção, aliás, que ninguém fala bem de Caracas. Dizem que é muito feia, nada para visitar e que é muito perigosa. Jantamos lomitos e tomamos cerveja Polar (verde ou azul).
Próximo post desta viagem
Apresentação de todas as fotos da Canaima

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

La Gran Sabana

16, 17, 18, 19, 20 de janeiro

Apesar da cidadezinha ser pequena, demoramos para achar o hotel. A primeira impressão de Santa Elena do Uairén não foi boa (e também a segunda, terceira,...), mas, era um dos hotéis mais procurados para turismo, super bem localizado e ba-ra-tís-si-mo (BsF$ 250,00 ou R$ 8,00 a diária por pessoa!!!!!!), limpo, claro que sem café da manhã e, o mais interessante, cada um recebeu 1/3 de uma toalha de banho! Ficamos em dois quartos - um triplo (cujo chuveiro esquentava demais, então os 8 tomavam banho em 1 banheiro) e um quíntuplo. Sta Elena de Uairén fica no departamento de Bolívar, aliás, muitas coisas na Venezuela levam o nome deste ilustre filho de Caracas, que libertou vários países, inclusive o seu, da colonização espanhola.
A estrutura para o turismo ainda é precária, tem algumas operadoras. O clima em Sta Elena é muito quente durante o dia, agradável à tardinha e à noite. O câmbio é o seguinte: 1 dólar = 8 BsF e 1 real = 4,2 BsF, no paralelo. No câmbio oficial é quase a metade disso. Sta Elena não é nada charmosa, vive do turismo de aventura – especialmente gente que vem para a grande expedição de 1 semana para subir o Monte Roraima. Lembra cidades bolivianas ou peruanas, um tanto suja. A população basicamente indígena e, como se denominam os que não são indígenas, “criollos”. O Ricardo sempre se passava por local, mas os demais, as pessoas já sabiam que eram turistas. Muito carro caindo aos pedaços nas ruas, mas, também e especialmente, camionetões 4X4 bem novinhos, que é o que consegue trafegar nas estradinhas secundárias. Muitos brasileiros vem comprar coisas, especialmente contrabandear gasolina – incrivelmente barata (comum R$ 0,02, mas para os estrangeiros é mais “cara” – R$ 0,04!!!).
As duas primeiras refeições foram feitas quase em frente ao hotel num restaurantezinho bem arrumadinho, que nos pareceu o mais limpo da redondeza – comemos pizza, tomamos Seven UP, cervejas Polar (lata azul/light ou verde/mais forte) total de BsF 383,00. Antes do almoço, um venezuelano muito conversador que parecia ser um dos donos do restaurante, nos falou sobre as atrações locais, vendeu uns mapas bem bons da “Gran Sabana” e ofereceu um prato típico - sopa de peixe com pimenta, que é comido com um pãozinho duro, o  casabe ( lê-se cassabe - é pãozinho ázimo de mandioca brava, muito tradicional, com o que faz "tunga-tunga" na sopa e pega o peixe). Óbvio que quem provou foram os mais entusiasmados com as novidades, Ricardo e Cascata. O cara ainda os levou num supermercado para trocar dólares com o “pai” dele, que há meia hora antes ele disse ter falecido, mas, tudo bem, o câmbio era o melhor que se conseguia...
Nos reunimos com o Sr. Marrero para saber sobre os passeios e roteiros sugeridos, definir o que fazer a cada dia e também escolher a forma de ir até Canaíma, depois que visitássemos toda a Gran Sabana. O Sr. Roberto Marrero merece umas linhas - é uma pessoa culta e interessante: nasceu no mesmo dia da Luísa e da Bruna, tem uns 50 anos e veio morar em Sta Elena há mais ou menos 30 anos, quando a estrada que cruza toda a Gran Sabana foi aberta (a estrada foi feita para passar perto dos principais pontos turísticos). Dirige a Mystic Tours, tem livros e mapas publicados sobre a região – sobre turismo, geologia, história e, acreditem, a presença constante de OVNIs na Gran Sabana. Ele é entusiasmado por estes temas, já apareceu em muitas reportagens em meios de comunicação e, parece, muito respeitado, um dos melhores agentes de turismo da Gran Sabana. Se quiserem conhecê-lo, falando sobre estes assuntos, acessem o seguinte vídeo para ter uma ideia... http://www.wikio.es/video/venezuela---ovnis-805109 .Fechamos o pacote de tudo com ele, inclusive definindo a ida a Puerto Ordaz, de carro, para, a partir de lá pegarmos um aviãozinho até a Canaíma e ver o Salto Àngel (cachoeira mais alta do mundo, uma das maiores atrações da Venezuela).

  • Tour de 1 dia, carro para 9 pessoas (Toyota chassis largo) com guia/motorista – BsF 1.000,00
  • Viagem no mesmo Toyota, para os 8, com passeios no caminho até Pto Ordaz – BsF 2.400,00
  • Pacote Salto Ángel (voo Pto Ordaz/Canaíma/Pto Ordaz, com 2 noites de hospedagem mais alimentação) - BsF 2400,00 p/p
  • Voo Pto Ordaz/Caracas – BsF 370,00 p/p

Curiosidade: a Venezuela adotou um fuso diferente de todo o mundo – tem ½ hora de diferença para Roraima. Estávamos, então, com 2h30min a menos em relação ao horário de Brasília – o que o Sr. Chávez não faz...Ouvimos a piada que Sta Elena é o único lugar do mundo em que os brasileiros chegam antes dos britânicos nos encontros marcados, por não saberem disto, mas, a partir do 2º dia isto já deixa de acontecer. Nós, acostumados com o paralelo 30 e com horário de verão, agora estávamos num local em que às 18h30 era noite fechada e amanhecia às 5h. O negócio era aproveitar bem o dia. Todos os dias em Sta Elena tomávamos café em uma padaria muito boa, onde parece que a maioria dos turistas iam, já que os hotéis em geral não servem café. O atendimento era feito por uns tremendos mau humorados, mas tudo bem. Após o café, nós encontrávamos com nosso guia José, que ia dirigindo e falando sobre os locais visitados. Os bancos na Toyota não eram nada confortáveis, exceto para quem viajava ao lado do motorista.
Primeiro dia de turismo na Gran Sabana – vimos, de cara, a paisagem que dá nome ao lugar, lindas savanas, com buritizeiros, um ambiente totalmente preservado onde, no horizonte se visualiza os grandes “tepuis”, como são chamadas as montanhas que têm uma formação rochosa bem particular cujo topo é muito plano, dando a impressão de serem mesas. Ficaram mais famosos após servirem de inspiração para o cenário do longa de animação Up-Altas Aventuras, da Pixar e da Disney (para quem tem o DVD, vale a pena ver nos “extras” a expedição que os animadores da Disney fizeram a toda esta região, para se inspirar e desenhar os elementos do filme). O local inspirou também Artur Conan Doyle (o autor do Sherlock Holmes) a escrever o Mundo Perdido, em que os europeus desbravadores se perdem e descobrem um lugar com vegetação e animais pré-históricos. Muitos tepuis nunca foram sequer alcançados pelo homem. Os dois mais famosos deles e também mais acessíveis são o Monte Roraima e o Kukenan (com topo quase que completamente coberto por esculturas rochosas de mil e um formatos, dizem que muitas pessoas se perderam por lá sem deixar rastros – por isto, está proibida a subida ao Kukenan). Em cima do Monte Roraima fica o marco da divisa de fronteiras entre Brasil, Venezuela e Guiana (Inglesa). A Venezuela não reconhece mais da metade do território desta Guiana, este trecho é também chamado de Guiana Essequiba (em função do limite com o rio Essequibo) ou, na Venezuela, Zona em Disputa e apresenta uma extensão territorial de 159.500 km², cuja soberania é reclamada pela Venezuela internacionalmente por meio do Acordo de Genebra, de 17 de fevereiro de 1966.
Voltando à descrição do roteiro do 1º dia na região, depois de muito andar pelas savanas em estradas de chão e pegar um canoão dirigido por índios por 20 minutos, conhecemos o Salto Aponwao – 125m de muita água.
Neste salto, há uns 15 anos atrás, uma canoa apagou o motor e não conseguiu ligar mais, fazendo com que 18 pessoas, crianças na maioria, morressem na queda do barco. Coisa horrível de se ver segundo os índios. Por isto as canoas, hoje em dia, param a 1 km do Salto.
Os meninos (sim, todos os 4) jogaram um futebolzinho ao lado da casinha dos índios enquanto esperávamos que o barco viesse nos buscar. Almoçamos bem – um prato feito com galinha ao mel, ou “bife”, arroz e saladas, lá num restaurante bem rústico, próximo ao local da saída do barco. Fomos ainda ao Mirador Los 4 Ventos (lindíssima vista para os tepuis). “Descobrimos” o restaurante Venezuela Primero, que elegemos para todas as demais noites, bem pertinho do hotel e recomendado pelo José como o melhor da cidade, cardápio variado, preços de BsF 35,00 a 90,00.
No segundo dia de Gran Sabana, às 8h já de café tomado e com nosso excelente motorista e guia José, compramos bebidas e água e seguimos para os lados de Paují, que é um vilarejo hippie ao sul do parque, mas fora dele, no caminho para as vilas dos mineiros que fazem divisa com o Brasil. Os hippies foram para lá há alguns anos em busca de paz e tranquilidade; produzem mel, no final do ano fazem um fogueirão e provavelmente sentam ao redor para fumar unzinho... Pelas redondezas, minas de ouro, diamante, outros minérios e recém descobriram urânio. Nesta região vivem muitos foragidos, inclusive brasileiros, pela dificuldade de acesso. Conhecemos o Salto Catedral – água fria, mas num volume muito grande (isto que os rios estavam bem secos na região). Todos, exceto Mônica e Débora tomaram banho...(isto se repetiu inúmeras vezes). Num quiosquezinho bem arrumadinho tomamos chá gelado e licor de hibiscus, comemos geleia e até “vinho”, tudo de hibiscus, que lá chamam de malva. Depois fomos ao “abismo”, numa caminhada morro acima de 45min, de onde se enxerga muita selva amazônica, inclusive do Brasil, numa paisagem impressionante. Almoço com bisteca de porco defumada ou galinha e bananas carameladas. Muito bom. Depois, Poço Esmeralda, outra cachoeira bonita, água realmente verdinha e clara, transparente, justificando o nome. Os corajosos tomaram banho.
Terceiro dia de Gran Sabana – exploramos a estrada que cruza o parque. Tudo com excelente asfalto, com os pontos de interesse bem próximos da via: Quebrada de Jaspe (incrível, só vendo nas fotos para entender - rio passa sobre um leito de jaspe, uma pedra preciosa avermelhada, laranja e amarela; desta vez todos nos molhamos, o recomendado é andar pela cachoeira e todo o piso de jaspe com meias, pois resvala muito);
Salto Água Fria (após uma grande descida a pé, cercado de vegetação, muito bonito), ainda vimos o salto Kauí que o José considera o mais bonito, de frente para os tepuis, onde vimos arco-íris formados ao longe; almoço e artesanias em Yuruani (vila indígena à beira da estrada, artesanato em madeira, jaspe e também caulim, o Ricardo comeu um prato típico – pavillon criollo, que era uma carne desfiada com uns temperos, acompanhado de feijão, banana e arroz); Salto Suruape (cachoeiras grandes, bastante gente, muito jaspe no leito do rio, o banho pareceu muito bom, os guris inclusive saltavam de pedrões); Mirador “El Oso” (ao entardecer, linda vista da cadeia de tepuis, especialmente o Kukenan). Há poucos animais na savana: cobras (vimos 3 na estrada e 1 no mato), gaviões, “oso hormiguero” (que é o tamanduá), insetos e quase nada mais. No lugarejo onde almoçamos, conhecemos o cartógrafo Emilio Perez (por coincidência autor de todos os mapas que havíamos comprado!), uma pessoa muito simpática que faz muito trabalho de campo atualizando e fazendo mapas de várias partes deste grande parque. Ele conversou bastante com o Ricardo, contou que tem um irmão que mora em Caracas e que, entre outras coisas, tem organizado “tours sociais”, em que mostra a cidade e tenta explicar as grandes diferenças sociais existentes. Depois foi conosco até o Salto Suruape e ainda seguiu de carona conosco até um certo povoado. Já de volta ao Brasil, assistindo aos extras do desenho animado Up, ficamos surpresos ao ver uma foto do Emilio como um dos guias da equipe da Disney pelo Monte Roraima

As aulas começam na 2ª semana de janeiro e as férias longas são em agosto e setembro, então, não é alta temporada por aqui, em quase todos os lugares que íamos, estávamos sozinhos. Algo que é preciso comentar são as inúmeras barreiras policiais, militares, da guarda nacional e até indígenas onde sempre tivemos que parar, justificar algo. Em geral o José explicava que estava levando turistas e que retornaria à noite ou mostrava um papel em que tinha nossos nomes e documentos registrados. Os militares sempre muito guris, adolescentes, sérios e muito armados. Pelo jeito procuravam especialmente drogas. Abriam a porta traseira do carro para ver nossos rostos, espiavam por baixo dos bancos, vários nos pediram passaportes - tudo parecia somente para “constar”, já que apenas uma vez conferiram realmente os passaportes, mesmo assim, não olharam se as fotos dos passaportes conferiam conosco.
O Ricardo se tornou venezuelano na noite (ou “mais” venezuelano) – foi ao “centro” onde há várias tendas de comidas e lanches feitos na hora e comeu duas arepas – pãezinhos feitos com “harina Pan” – uma marca especial de farinha de mandioca. As arepas foram assadas (podem tb ser fritas ou na chapa) com recheio a escolher. Tomou frescolita (refrigerante típico fabricado pela Coca, com gosto de xarope gaseificado), tudo isto vendo uma partida de beisebol, que é o esporte nacional – estávamos em plena semana de decisões da Liga Venezuelana. O campeão vai para a Liga do Caribe. Em todos os restaurantes passavam partidas e o pessoal torcia. No centro de Sta Elena uma boate tocando música sertaneja e uma casa da “difícil vida fácil”, chamada Porto Belo, onde a maioria das trabalhadoras eram brasileiras, segundo o José, as preferidas pelos mineiros da região.
Quarto e último dia de Gran Sabana – parecia que já estávamos longe de casa há uns 15 dias, de tanta coisa que havíamos feito! Acordamos mais cedo um pouco, café na “panaderia” e às 7h45 saímos da Posada Michelle, após nos despedirmos do sr. Marrero e colocarmos todas as mochilas dentro da lona amarrada em cima do Toyota. O destino final deste dia seria Pueto Ordaz, uma cidade grande, distante 750km, com uma represa no rio Orenoco, onde moram os pais do José. Em função disto, penso que ele ficou feliz em ser contratado para nos levar. Estávamos tranquilos de ir com ele, pois numa viagem tão longa, com tantas barreiras policiais e a propaganda que nos haviam feito em relação à segurança... O dia não seria apenas de viagem – paramos em algumas atrações no caminho. Salto Kama ou Kama Teru - uma grande cachoeira, mas desta vez ninguém tomou banho, apenas visitamos os lugares. Cidade de Callao, maior cidade mineira da Venezuela, onde está uma grande mina estatal e, claro, tem um grande outdoor do Chávez na entrada. Nesta cidade visitamos uma mina de ouro desativada, as meninas da turma não se sentiram à vontade para entrar, já que havia “morcielegos”...pelas fotos, deve ter sido legal! Almoçamos cachapa (provavelmente o motivo do mal que atingiu a Mônica durante toda a noite seguinte!). A cachapa é uma panqueca feita na chapa com massa de milho e um pouco adocicada – parece pamonha – onde colocam o recheio que quiser, nós comemos com carne assada (muita gordura, por sinal) e um queijo mole – queso llanero! Vou dispensar os comentários a respeito das condições de higiene do local, que era na beira da estrada...
A estrada e a paisagem mudavam ao longo dos 750km, os povoados bastante pobres e feios. Nesta zona, os postos controlam a venda de combustível para não venderem a mineiros ilegais e as bombas são cuidados pelo exército. As pessoas usam uma cartela para carimbar o abastecimento, que só pode ser feito uma vez a cada 2 dias, exceto para carros de turismo como o nosso. Acontece que as pessoas fazem fila para lotar o tanque e vender o combustível aos mineiros com ágio e isto não é reprimido.

A população essencialmente indígena, todos “pemón”, a linguagem entre eles (da mesma etnia) é que pode variar, a ponto de nem se entenderem! Nós nos revezávamos nos bancos, sempre alguém deitando, pois não dava para espichar muito as pernas e sofríamos com as costas. Nunca houve acostamento, placas de sinalização eram raras, não há controle algum de velocidade, cintos não são exigidos e alguns poucos trechos tem faixas pintadas separando as pistas. José nos disse que muitos brasileiros se acidentam por não conhecer a estrada e tb pela falta de sinalização. Ele conhecia como a palma da mão. Se vê muito camionetão 4X4 novinho, especialmente Toyota, como o nosso, mas também alguns carros muito velhos, caindo aos pedaços. Na estrada, muitos carros brasileiros que vinham ou voltavam de Manaus para Isla Margarita – provavelmente a praia de mar mais próxima para eles, no total, uns 2.000 km!
Antes de entrar propriamente em Pto Ordáz, passamos por uma cidade periférica, chamada San Félix, que é muito grande e muuuuuito suja. Entrar em Pto Ordáz foi como entrar, pela primeira vez na Venezuela, em uma cidade limpa, com bairros chiques, condomínios fechados, parques, praças arborizadas, ruas bem largas, sinalizadas, centros comerciais e prédios altos. O que chama a atenção, em toda a Venezuela, desde o vilarejo mais pobre até esta grande cidade, é que não há porta ou janela, mesmo que seja no 10º andar, sem grades!!!
Em Pto Ordáz acontece o mesmo fenômeno que vimos em Manaus, do “encontro das águas” – desta vez, dos rios Caroni e do grande e famoso Orenoco. Diferentemente do Brasil, aqui as águas nunca se misturam, seguem, sempre, lado a lado, de cores diferentes, bem marcadas. No início da noite chegamos à Posada Kaori (sem café da manhã, muito limpa, “outro nível”, ar condicionado e internet!). Após um excelente banho fomos jantar no Centro Comercial Orinoquia, onde alguns provaram arepas, a maioria das crianças ficou feliz com o Mac Donalds e a Mônica nos humilhou com um waffle de chocolate. A noite de sono foi excelente, menos para a Mônica que botou todo o waffle e cachapa para fora e quase não dormiu...
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