quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Los Alerces e Bariloche

Dia 21 (02/02/2012) - Los Alerces
Após o café na pousada em Trevelin, nos dirigimos ao Parque Nacional Los Alerces. Há uma estrada que cruza o parque em direção norte. Paramos no bem organizado centro de visitantes onde nos informaram sobre as atrações e trilhas do local, que parece excelente para ficar por vários dias. Existem pousadas charmosas e muitos campings bem estruturados.

Fizemos uma trilha que foi das mais fáceis e bonitas de toda a viagem. Andamos uns 3km no total, em um caminho entre árvores, com placas explicativas sobre a fauna e a flora local, acompanhando um lago e rios, com as tradicionais águas lìmpidas, esverdeadas ou azuladas, onde inclusive vimos, de cima de uma ponte pêncil, grandes trutas nadando contra a corrente.
Há uma excursão lacustre, que leva até uma ilha onde existe um bosque de alerces, que é uma árvore nativa da região, da família dos ciprestes, alcança grandes alturas e está se extinguindo. Tudo muuuuito lindo, como vários parques nacionais que visitamos. Uma parte da trilha que fizemos estava fechada para resguardar uma puma que deu cria e está cuidando de seus 2 filhotes.

Bem, continuamos subindo, em direção norte, com nosso super-agora sujo-barulhento e estourado carro. Passamos pela cidade de Cholila , onde por seis anos moraram Butch Cassidy e Sundance Kid, em suas aventuras fugindo da justiça dos EUA, nos idos de 1900. Lugares perdidos, que realmente lembram um filme de faroeste... Depois de Cholila voltou o asfalto. A cada vez que isto acontecia, após longo período de barulheira, poeira e bateção, era uma festa na galera!
Passamos por El Bolsón, uma cidade simpática, que tem muito atrativos relacionados a esportes de aventura. Se vê por tudo agências de passeios de rafting, canopy (é como chamam a tirolesa), cavalgadas, trekking, etc. Realmente, a natureza nestes locais convida!

Chegamos em Bariloche pelas 14h, entrando por uma periferia pobre e desorganizada, até um tanto suja, diferente dos cartões postais que são referência da cidade. De longe avistávamos uma bruma nas cercanias - eram, ainda, 7 meses depois da erupção, as cinzas do vulcão chileno Puyehue, que fica logo ali na fronteira. O GPS nos largou exatamente dentro do centro histórico, onde nos dirigimos ao Centro de Informações Turísticas e tivemos a sorte de ser atendidos por uma carioca, que mora há 30 anos em Bariloche, mas ainda não perdeu o chiado. Ela nos falou do Circuito Chico que poderíamos fazer em uma manhã ou tarde, da rota dos 7 lagos, das subidas aos montes com estações de ski, etc Também nos indicou um local para um bom chocolate quente - Tante Frida.

Passamos pela praça, onde uns cães são bernardo eram oferecidos para tirar fotos, por uma feira de artesanato, pela rua principal de San Carlos de Bariloche, onde almoçamos uma pizza e depois comemos chocolates, sorvetes e tomamos chocolate quente, na casa indicada anteriormente. Resolvemos tentar alugar uma cabana ou, como dizem, um bungalow, na estrada que leva ao Circuito Chico, à beira do Lago Nahuel Huapi. E foi uma boa ideia, o grupo grande, de oito pessoas, também acaba ajudando bastante nesta hora, para diminuir o preço. Achamos um local excelente, por um valor bem bom, aliás, os preços de hospedagem baixaram muito em função da situação da nuvem de cinzas, que permanece prejudicando o turismo. Desde o inverno os voos estão incertos e, em função disto, os turistas que ainda vem para Bariloche e arredores sãos os chilenos, de carro ou ônibus. Ficamos muito bem instalados. Também havia um restaurante excelente bem na frente da pousada, acabamos jantando nele as duas noites que ficamos na cidade.


Dia 22 (03/02/2012) - Bariloche

Mais um dia em Bariloche. Após um bom café da manhã com media lunas quentinhas, sucos, frutas, frios, etc, comprados em um super próximo, saímos para o Cerro Catedral. Chegando no enorme estacionamento percebemos um grande número de ciclistas totalmente equipados e ficamos sabendo que era uma competição de bicicross descendo o Cerro - achei bem perigoso, dada a inclinação , as trilhas eram muuuito íngremes. Pagamos os ingressos para a subida: a primeira parte de bondinho fechado para 4 pessoas, a segunda parte cadeirinhas abertas. O frio foi grande lá em cima, muito vento. Nos abrigamos no restaurante/café, que estava sem energia, então, não servia nada além de refrigerantes e cervejas (e davam "de grátis"). É incrível como se enxerga a grande nuvem de cinzas cobrindo a cidade. Nos contaram que no inverno de 2011, logo que houve a erupção do Puyehue os rios e lagos ficaram cobertos de pedra pomes, que de tão leve fica boiando e cria uma camada que cobre a água. Lebres podiam cruzar correndo por cima, sem afundar.



Os fotógrafos Ricardo e Cascata exploraram por um tempo o cume, tiraram fotos e após uma meia hora descemos até a 1ª parada, onde o restaurante estava em melhores condições. Tomamos chocolates quentes, refrigerantes e água. A vista do Cerro Catedral é belíssima e o dia estava lindo, mas aos poucos começou a fechar o tempo - avisaram-nos que era a nuvem de cinzas que estaria na cidade à tarde e traria um a pequena tempestade, e realmente ela veio mais no final da tarde!



No início da tarde, após o Catedral, resolvemos fazer o Circuito Chico. Assim, levamos nossos tradicionais sanduíches e lanches para baixo de alguns arrayanes (essa árvore da foto que parece uma pintura do Van Gogh) na beira do lago Nahuel Huapi. A rodovia, muito bem asfaltada, conduz pelas paisagens belíssimas ao redor dos lagos, com suas águas muito azul claras. Confirmamos a história da pedra pomes - na beira do lago podíamos pegar na mãos pequenas pedrinhas esbranquiçadas que boiavam. Vimos o famoso hotel Lao Lao, imponente, na pequena colina às margens dos Lagos Nahuel Huapi e Moreno, uma imagem das mais famosas de Bariloche.

Após o passeio, fomos ao centro da cidade, comprar algumas lembrancinhas, chocolates, artigos de rosa mosqueta (que é típica da região e tem por todas as beiras de estrada), como chás, cosméticos e geleias.
Ao entardecer, já ventava bastante, empurrando o pó do vulcão pra dentro dos olhos da gente. Toda a cidade de óculos agasalho. Já dava pra sentir a nuvem pesada na cabeça.


Dia 23 (04/02/2012) - De Bariloche a Los Angeles
Um dia pra viajar. Saímos em ritmo de passeio em direção ao circuito grande de Bariloche pela ruta dos sete lagos, entramos em Vila Angostura para um passeio breve. Aqui parece bem mais interessante de se hospedar que Bariloche: uma cidade pequena e aconchegante, também com muitos hotéis e pousadas ao longo de todo o caminho e também muito prejudicada pela nuvem do vulcão.
Seguimos adiante em direção ao passo Mamuil Malal ou Tromen, dependendo do lado, por onde retornamos ao Chile. Antes, ainda passamos por San Martin de Los Andes que estava de aniversário e cheia de cavalarianos e Junin de Los Andes para o almoço.
Na aduana Argentina nos quedamos um tempão. Uma confusão de filas em caracol, onde o último que chegava ia para o final da fila, que era cada vez mais dentro, apertado e enrolado na fila que se dobrava pra dentro dela mesma. Uma beleza. Ainda vimos o chileno que não pode entrar na Argentina com uma melancia por conta da reciprocidade de tratamento, e ficou indeciso entre comer toda a melancia ali mesmo ou abandonar a gorduchinha pros policias @$#!
Na aduana do Chile, tudo bem mais organizado, mas o nosso salmão defumado foi passando fronteiras, desde Puerto Montt até voltar, sem ninguém meter a mão, pela segunda vez ao Chile.


Ao lado das aduanas uma linda vista para o vulcão Lanin, que fica bem na fronteira.
Depois de passados os trâmites aduaneiros, muito chão até Los Angeles, uma cidade razoavelmente grande, na beira da Panamericana e onde encontramos hotéis caros e fraquinhos. Tinha também os bem bons e caríssimos, mas ficamos nos fraquinhos. A impressão é de uma cidade grande tradicional, com seus concretos e seus negócios de reflorestamento, mas tem alguns parques bem legais, pelas fotos, nas proximidades.

Dia 24 (05/06/2012) - Volta para Santiago
Saímos de Los Angeles em direção a Santiago pelas 10h para fazer os últimos 500km da viagem na asfaltada, reta, duplicada e segura Panamericana. Só parando em postos de gasolina pra café e xixi.
O glorioso GPS nos largou dentro do mercado publico municipal de Santiago para comermos os últimos peixes no Chile. No aeroporto a expectativa para a devolução da van, ou o que restou da pobre: completamente imunda; com as borrachas da porta com frestas por onde entrou metade do pó da ruta 40; sem o para-barro de uma das rodas; com alguns cabos de baixo amarrados com um cadarço; com o carregador de bateria traseiro queimado e desmontado; com o banco de trás cortado; com um pneu furado e consertado; com o radiador cheio de água de arroio; com um amassado embaixo da porta; com os para-sol que não paravam  e com 5.000 km a mais. Mas foi tudo tranquilo, anotaram o amassado e nos mandaram a conta depois. Tudo custou bem menos do que esperávamos.

Depois foi só esperar e esperar e esperar até o retorno tranquilo num vôo direto pra POA.



quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Carretera Austral

Dia 19 (31/01/2012) - Carretera Austral
Café da manhã razoável, sem medialunas :( Às 8h30 já estávamos na aduana argentina. Os trâmites de fronteira demoraram um pouco, especialmente na entrada do Chile, em função de escanear bagagens, revista no carro, mas foi tudo bem. Estão menos rigorosos em relação aos produtos alimentícios atualmente. Passamos com salmão defumado, chocolates, alfajores, geleia, apesar de estar evidenciado em grandes cartazes que não eram permitidas carnes defumadas, produtos alimentícios frescos ou industrializados, etc.

A cadeia de montanhas sul dos Andes estava visível com muitos picos nevados. A cidade de Chile Chico, do lado do Chile, é simpática. Subimos um mirador que tem uma vista para todo o povoado e tb para o lago, que é o mesmo, mas muda de nome, no Chile é chamado de General Carrera e na Argentina, de Buenos Aires.

O lago é muito azul turquesa, a estrada que pegamos margeava quase toda sua extensão e tinha muitas atrações pelo caminho. Era a parte sul da famosa carretera austral. A vegetação já havia mudado totalmente, da aridez do dia anterior para os verdes bosques, as montanhas nevadas e os vales profundos ao redor do lago. A estrada de ripio em geral não era boa, mas lin-dís-si-ma! Como chovia e parava e voltava a chover um pouco, ao longe vimos muitos arcos-íris durante o dia. Compramos pães caseiros, maionese, presunto e queijo em fatias e alguns torrones em um dos únicos estabelecimentos que passamos ao longo de todo o dia. Os sanduíches foram montados no carro mesmo, rolou um chocolate de sobremesa, os torrones, água e mate.

Às 15h30 chegamos à localidade de Puerto Rio Tranquilo, de onde alugamos um pequeno barco para ir até a maior atração deste trecho da carretera: as capelas de mármore. São esculturas naturais que a água do lago fez em pedaços enormes de mármore, alguns deles em ilhas, formando assim, grutas, covas e buracos arredondados com cores diversas, matizadas do branco, róseos, marrom e esverdeados. Pagamos 5mil pesos chilenos p/p. A Débora não topou porque estava muito frio e ventoso, então, pela primeira vez, conseguiu ter tempo para atualizar este diário. Depois de 1h30 se molhando e passando frio, os 7 turistas voltaram felizes com o que viram, mas a Mônica alterou sua opção no item "maior medo" no ranking da viagem.

Foi mais um dia exaustivo dentro do carro, chacoalhando pelas estradas de chão em lugares um tanto isolados. A van está literalmente se desmanchando, tiveram que retirar um apara barro que quebrou, estamos carregando no porta malas. Não sei como será a entrega à locadora.... Pegamos sanduíches calientes e uma coca-cola para continuar viagem de novo.


No caminho ainda vimos uma linda ponte pêncil, de ferro cor de laranja, que contrastava com o turquesa da água do rio. Daí em diante veríamos inúmeras pontes pintadas de laranja, a maioria de ferro. Já haviam algumas propriedades rurais, gado, ovelhas, cavalos, cachorros. Muitas áreas tem vestígios da grande erupção do vulcão Hudson (o qual estávamos contornando durante todo o dia) de agosto de 1991.

Vimos bosques destruídos, lagos que se formaram, etc. Eram 20h30 e ainda não estávamos no asfalto, tão esperado por todo o dia. Do começo do asfalto, em Cerro Castilho, até Coihaique, que era o destino do dia, ainda havia mais 100km para percorrer, felizmente em ótima estrada pavimentada, mas da mesma forma deserta. Às 21h faziam 8 graus fora do carro. Chegamos muito tarde em Coyhaique, que é a capital da região e estava lotada. Após procurarmos muito, olharmos muquifos, acabamos ficando num excelente 4 estrelas, que foi pouco aproveitado, só deu tempo de tomar banho e dormir.


 Dia 20 (01/02/2012)
Após um café da manhã mais ou menos, saímos pela carretera austral em direção norte, novamente. Andamos por 160km de asfalto e depois, só estrada de chão. Foi outro dia cansativo, viagem e viagem. Durante toda a viagem cruzamos por mtos mochileiros, motociclistas, mas na carretera austral havia um número muito grande de ciclistas com suas grandes mochilas, pedalando montanha acima, montanha abaixo, em duplas ou sozinhos e também famílias com crianças.

Cruzamos o Parque Nacional Queulat que é bastante úmido, florstas fechadas, onde a estrada sobe e desce em ziguezague pelas montanhas. Na parte mais baixa do parque paramos para caminhar até a laguna Tempanos, de onde avistamos o famoso Ventisqueiro Colgante.

Lanchamos ali e seguimos, passando por Puyuhuapi, localidade muito simpática, de imigrantes alemães, à beira de uma entrada do Oceano Pacífico. Aproveitamos para abastecer.




Deixamos a carretera austral para pegar uma outra estradinha, tb de chão batido, até Futaleufú, fronteira com a Argentina, trajeto lindo, entre os Andes, lagos, pequenas propriedades. À beira do caminho, por toda a Patagônia, os brincos de princesa vermelhos (uma espécie simples, com folhas pequenas escuras) emolduram os caminhos e especificamente nesta parte, além destes e várias outras flores silvestres, há muita rosa mosqueta na estrada. A rosa mosqueta no verão já perdeu suas pétalas e o fruto, quando maduro, entre março e maio, será colhido para fazerem geleias e chás, além de usarem as sementes para óleos e cosméticos. O trâmite de fronteira não demorou. É evidente a barreira que os Andes representam nesta parte da América, pois assim que se cruza as grandes montanhas o clima se torna mais seco, a vegetação também e, aos poucos aparecem os campos e fazendas. Conseguimos uma boa pousada em Trevelin, que é uma pequena e acolhedora cidade, com ruas limpas e largas, muitas flores nos canteiros. Uma curiosidade é a imigração galesa e as várias casas de chá . Jantamos e dormimos bem.