domingo, 3 de agosto de 2014

Parque Estadual do Cantão - TO

Parte 2 – Parque Estadual do Cantão

O Parque Estadual do Cantão é uma área protegida de 89.000 ha, criada pelo governo do Tocantins em 1998. Situado ao norte da Ilha do Bananal, na confluência entre o Rio Araguaia e o Rio Javaés, o Parque Estadual do Cantão limita-se com o Parque Nacional do Araguaia, formando assim um conjunto de áreas protegidas de mais de 700.000 ha de extensão. O Cantão orgulha-se em representar o encontro de 3 biomas: a floresta amazônica, o cerrado e o pantanal.  Entre as bocas dos rios do Côco e Javaés, a floresta amazônica penetra em território tocantinense, avançando sobre o domínio do cerrado. O Javaés forma um delta interior, uma vasta planície aluvial repleta de meandros, lagos e canais naturais. Bastante diferente do Jalapão, o Cantão é praticamente selvagem, com pouquíssimos moradores que permanecem no seu interior e auxiliam em práticas de preservação.

Dia 30 de julho, quarta

Bem cedo, na cidade de Palmas, após o café da manhã (ruim, no Hotel Serra Azul), o Cascata foi buscar um carro que havia reservado na locadora, pois para ir até o Parque do Cantão, o Léo, da CCTrekking (http://www.cctrekking.com.br/), poderia conduzir somente 3 ou 4 pessoas em seu carro. Então, fomos em dois carros, metade com o Léo. Leonardo é um carioca / capixaba que mora e investe no turismo na região do Cantão há 4 anos. Segundo ele mesmo, é o único agente de turismo da região. Foi ele quem acompanhou o fotógrafo Zé Paiva em suas expedições para a produção do livro de fotos “Expedição Natureza – Tocantins”. Partimos para o oeste desta vez, a 260 km da capital, onde fica a cidade sede para explorar o PECantão – Caseara.  A certa altura da estrada vimos uma placa indicando o acesso à Miracema do Araguaia – antiga Miracema do Norte (alguém lembrou do caminhoneiro Arlindo Orlando? kkkk). Somente estradas asfaltadas. Vimos muito desmatamento para lavouras, mas também veredas lindas com buritis. Passamos por pequenas cidades onde chamavam a atenção as caixas de tela com carne pendurada, secando ao sol, nas calçadas. Chegamos ao meio dia em Caseara e almoçamos junto à saída da balsa que atravessa o Araguaia levando os automóveis e caminhões para o Pará. Logo em seguida, colocamos toda a bagagem nas lanchas “voadeiras” que nos levariam à ilha, na confluência do rios Coco e Araguaia, em uma praia de areias brancas (“Praia da Ilha”), onde estava o acampamento que seria nossa casa pelos próximos dias. O sol escaldante do início da tarde não nos animou muito, pois o local não dispunha de qualquer árvore. As barracas eram muito boas, novinhas, bem altas, já estavam com colchões, travesseiros e roupas de cama limpinhas para nós. Os dois barqueiros – sr. Manuel e sr. Lourival e a guia (que também é assistente social na cidade), sra. Marluzia nos acompanhariam por todos os dias também, já que todo o acesso às atrações do parque eram pela água do rio. Após o reforço do protetor solar saímos para explorar as margens do rio Coco até chegarmos na sede do PEC, onde caminhamos em uma pequena trilha pelo mato para conhecer as instalações administrativas, muito boas por sinal, com uma estrutura bem completa, uma interessante exposição de fotos e um auditório em que vimos audiovisuais sobre o ecossistema do lugar. Voltando aos barcos, apreciamos muitos pássaros que passavam, de várias cores e tamanhos (o Cascata estava na Disneylândia com a sua super lente) e depois, o show do por do sol multicolorido espelhado nas águas do rio Coco. Escureceu pelas 18h. Chegando ao acampamento, fomos orientados sobre o gerador, que seria desligado às 22h, sobre o jantar e o café da manhã, que seria servido em uma barraca de um acampamento vizinho, superaparelhado. É preciso dizer que muitas famílias montam grandes estruturas de acampamento com TV, ar condicionado, uma cozinha praticamente inteira, etc, etc, etc nas margens do Araguaia nos mês de julho, que é a temporada de verão deles, quando o rio está baixo e forma muitas praias. Estávamos, então, pegando o final da temporada e a sra. que nos serviria as refeições da noite e manhã, estava com sua família ali já há um mês, muito bem instalada. Para nossa surpresa, o banho no pitoresco banheiro sem teto era excelente – água bem agradável, aquecida naturalmente pelo sol durante o dia e com vista para a lua e as estrelas. A janta foi ótima, muita variedade e tudo saboroso! Quando o gerador foi desligado, surgiu o espetáculo do firmamento e toda a Via Láctea exposta aos nossos olhos, algo formidável, que fez a alegria dos fotógrafos Ricardo e Cascata. Dormimos com alguma dificuldade para acostumar com o barulho das balsas passando a cada hora e meia durante a madrugada. Fez bastante frio.

Dia 31 de julho, quinta
Acordamos cedo, pois o sol começava a esquentar demais o interior das barracas já às 7h. O café da manhã foi um sucesso – bolo de chocolate, pães e cuca de coco feitos no acampamento, frios, leite, café, sucos, melancia bem doce... Saímos nas voadeiras às 8h30, em direção ao parque, mais uma vez pelo rio Coco. Após passar algumas partes do rio com um mundão d’água, chegamos a outras rasas, com pouca água, onde os motores das voadeiras eram desligados e elevados para não arrastarem no leito do rio. Nesta época de seca do rio as águas baixam a cada dia. Os barqueiros nos alertaram sobre a quantidade de piranhas e arraias no rio Coco, estas, muito perigosas, que podem gangrenar uma perna com seu ferrão! Atracamos em uma margem do parque e começamos uma caminhada de 6 km, guiados pela Marluzia, mata adentro, até chegarmos em instalações do parque e depois na casa de ribeirinhos que permanecem morando dentro do parque, nos seus ranchos, que já existiam antes do parque ser instituído. Uma mochila muuuuito pesada trazida pela guia foi carregada em revezamento pelo Artur, Ricardo e Gabriel, durante o cansativo trajeto, no calorão daquele dia. Na mochila vinha água, um frango, batatas, outros mantimentos para abastecer a casa dos ribeirinhos que nos receberiam. Chegamos primeiro na casa do sr. Raimundo, muito simpático e conversador e depois, fomos recebidos pelos seus vizinhos, o sr. Levi e a sra. Maria Luisa, um casal bastante humilde, que participa do circuito turístico montado pelo Léo, como uma atividade de turismo de experiência. Assim, a sra. Maria Luisa preparou parte do almoço; a Marluzia preparou frango e batatas que trouxemos na mochila, para complementar. Desta forma, o casal é remunerado para isso, havendo um retorno interessante e uma troca bastante produtiva para quem quer conhecer a forma de vida, conversar com estes cidadãos do local. Almoçamos sentados na principal peça da casinha, em meio à fumaça do fogão à lenha, dos feixes de arroz pendurados no teto (eles plantam arroz para seu consumo), do altar de santos, pretos velhos e remédios (!) do pitoresco rancho. Depois descansamos um pouco nos bancos externos, junto das galinhas, cachorros e da horta, curiosamente montada dentro de canoas velhas. O Cascata ganhou “mudas” de mandioca, sementes das enormes cabaças - que nos chamaram a atenção por serem totalmente fora do que conhecíamos até então deste tipo de planta. Ganhamos carona nas canoas de madeira (as duas feitas do tronco de uma árvore só) para atravessar o Lago Rico, desde o rancho dos nossos anfitriões até um local bem mais próximo do rio, o que diminuiu muito o nosso tempo de trilha para caminhar. Passamos por muitos locais interessantes: lagos grandes, pequenos, secos, vegetação alta, com muitos cipós. Vimos uma graça real, algumas ciganas (pássaros que geralmente andam em bando, com um penacho na cabeça), mas a grande maioria dos animais que poderia estar no local era espantada pelo barulhão das folhas secas amassadas pelos nossos passos. Já de volta ao rio Coco, reencontramos nossos barqueiros, que nos levaram ao acampamento para o ritual de banhos no banheiro a céu aberto, janta maravilhosa, roda de conversa sobre os fatos do dia e, ao apagar do gerador, brincadeiras com luzes, fotos, observação do firmamento iluminado e da fina lua crescente.

Dia 01 de agosto, sexta
Dia de descer o Araguaia. Rio largo, mundão d’água, muito peixe. Em uma margem o Pará, noutra, Tocantins. Numa das explorações nas margens e entrâncias do rio, compramos peixes de um pescador, para garantir o almoço. Os barqueiros e homens do grupo também se animaram a pescar e então, para o almoço, tínhamos piaus, flamenguinhos e tucunarés. Fizemos um piquenique junto ao rio, com peixes assados, uma vinagrete preparada na hora pela Marluzia, farofa, bananas e melancia geladinha. Tudo excelente! O peixe, sem dúvida, foi o melhor da viagem. Descansamos bastante na clareira após o almoço e depois, seguimos para uma praia ótima, deserta, para tomar banho no Araguaia, montamos as cadeiras na areia e ali ficamos aproveitando a tarde, ouvindo histórias do sr. Manuel e do sr. Lourival sobre aviões que haviam caído naquelas bandas. Raramente passava algum pequeno barco ou canoa, ou seja, parecia que estávamos sozinhos naquele mundo. A água do rio estava bem boa, não era fria. De repente os barqueiros e a Marluzia começam a preparar o lanche, tirando das grandes caixas térmicas sucos gelados, mais melancia, sanduíches excelentes. Em seguida exploramos outros braços do rio, onde sempre víamos mais animais, especialmente pássaros, para a alegria dos fotógrafos. A noite seguiu como as anteriores, muita exploração do céu estrelado, identificando as constelações com a ajuda de um programa de computador que mostrava o céu do momento.

Dia 02 de agosto, sábado

Dia de subir o Araguaia. Neste trecho de rio vimos mais movimento, pois é rota para uma cidade maiorzinha, no Pará, chamada Barreira de Campos. Esta cidade, planejada para povoar a região, tem uma estrutura melhor, casas boas, alguns empreendimentos na beira do rio, uma escola bem grandinha, praça, etc. Acontece que a cheia anual do rio por duas vezes invadiu praticamente tudo e isso acabou desanimando muitos moradores que foram embora, para regiões mais afastadas da água. Voltamos ao nosso acampamento, mas antes ainda entramos em alguns braços do rio onde o Cascata fotografou uma ariranha. As ariranhas são abundantes, mas ariscas no Araguaia, assim como os jacarés e botos, cujo dorso víamos eventualmente na superfície d’água, quando subiam para respirar. Meio dia e já era hora de voltarmos à civilização, então, alguns aproveitaram para se despedir do Araguaia em um banho rápido na frente da ilha do acampamento. O Léo nos esperava nas barracas, colocamos as mochilas nas voadeiras e fomos à Caseara almoçar, pagar a parcela que faltava à CCTrekking e voltar à Palmas. Chegando na capital, passamos pela grande Ponte da Amizade e da Integração (ou Ponte FHC), sobre o lago formado pela represa do rio Tocantins, vimos a praia da Graciosa, no mesmo lago, onde há prática de esportes náuticos e paramos em frente ao Palácio Araguaia, apreciando também outros prédios públicos que ficam concentrados na Praça dos Girassóis, a segunda maior praça pública do mundo com uma área de aproximadamente 570 mil m², no centro da cidade. Hospedamo-nos novamente no Hotel Serra Azul. Despedimo-nos do Léo, jantamos risotos em um agradável restaurante de esquina, conversando sobre as aventuras vividas no mais novo estado brasileiro. Às 5h da manhã de domingo, pegamos o avião de volta a nossa Porto Alegre e, assim, terminou mais um período de férias muito bem aproveitado!

Fotos do Cascata na Disneylândia: